Sobre nós


O blog “Falando do B” tem como objetivo resgatar a história de um grande sucesso do Jornal do Brasil, o Caderno B. Os alunos da FACHA (Méier) desejam mostrar o início desse suplemento, a sua fase áurea, os grandes escritores e jornalistas que trabalharam no caderno e o quanto ele foi importante, visto que inaugurou uma área cultural até então inexplorada pelo jornalismo brasileiro. Os cadernos culturais se transformaram em objeto de desejo da maioria dos jornais depois de sua criação. O Caderno B foi o pioneiro e até hoje nós podemos curtir esse trabalho diariamente no JB.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

OS BEATLES (04/07/1965) - por José Carlos Oliveira


Fala-se muito ultimamente em quatro rapazes: os Beatles. Eles representam para a Inglaterra o que a Brigitte Bardot representava há pouco tempo para a França: um monte de divisas. Por causa disso, a Rainha os elevou à Ordem do Império Britânico. Diante do quê os velhos heróis britânicos devolveram suas condecorações. Nesse momento ficou claro que os Beatles simbolizam a juventude atual, cujo comportamento e linguagem estão em conflito permanente com os chamados valores respeitáveis, representados estes pelos velhos heróis. Um deles, Paul Mc Cartney, fez esta declaração importante:
- Os velhinhos estão zangados porque nós conquistamos, cantando, a medalha que eles foram buscar no campo de batalha. Pois eu acho que é muito melhor cantar do que fazer a guerra.
Eis, em sua simplicidade, o conflito. A juventude quer a dança, a bagunça alegre; os mais velhos vêm com aquela velha história de honra e bravura, que acaba em sangue e lama. O encanto dos Beatles reside no fato de que não levam nada a sério, a não ser o dinheiro. E não se preocupam muito com o dinheiro, apenas vão recolhendo aquilo que ganham com o seu trabalho. Mostram-se cabeludos só para chatear, e um deles, John Lennon, considerado o intelectual do grupo, chegou mesmo a publicar um livro completamente alucinado, que lembra os belos tempos de outra geração igualmente descontraída, pacífica, alegre e, por isso tudo, perigosa: os surrealistas. Foram dizer a John Lennon que o modo como o seu livro fora escrito recordava a técnica de James Joyce. Eis o que ele comentou:
Todo mundo falava tanto que eu imitava o Joyce que acabei resolvendo lê-lo. Foi fantástico. Incrível. Levei a metade de um dia para decifrar a metade de um capítulo. Mas tive a impressão de reencontrar o meu papaizinho...
É bom que os jovens não tenham medo de nada e que se lancem como iconoclastas sobre tudo o que se considera mais sagrado e respeitável: os cabelos cortados, a literatura de vanguarda, qualquer espécie de protocolo e, finalmente, aquilo que é quase sempre o fim de tudo isso: a guerra para defender toda essa hierarquia, que no entanto é sempre contestável. Quem fez a fortuna dos Beatles foram as crianças. Em todas as regiões do Ocidente, as crianças se apaixonaram por eles e começaram a disputar os seus discos. Foi uma penetração irresistível: dos 200 milhões de dólares ganhos em 1964 pela indústria norte-americana de discos, 50 por cento eram representados pelos Beatles. Cem milhões de dólares, portanto, é quanto eles valem, em apenas um ano e em apenas um país. Em vez de devolverem as medalhas, aqueles velhos senhores deveriam começar a perguntar por quê. Por que os Beatles? Por que esses cabeludos, esses que zombam de tudo e não levam nada a sério?
Porque atrás dos Beatles estão toda a juventude e toda a infância. Esperemos que eles cresçam, e muitos velhos senhores começarão a tremer.

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