Sobre nós


O blog “Falando do B” tem como objetivo resgatar a história de um grande sucesso do Jornal do Brasil, o Caderno B. Os alunos da FACHA (Méier) desejam mostrar o início desse suplemento, a sua fase áurea, os grandes escritores e jornalistas que trabalharam no caderno e o quanto ele foi importante, visto que inaugurou uma área cultural até então inexplorada pelo jornalismo brasileiro. Os cadernos culturais se transformaram em objeto de desejo da maioria dos jornais depois de sua criação. O Caderno B foi o pioneiro e até hoje nós podemos curtir esse trabalho diariamente no JB.

domingo, 21 de junho de 2009

Entrevista com Reynaldo Jardim, criador do Caderno B


Reynaldo Jardim foi o criador do Caderno B e participou da reforma do JB nos anos 50. Aos 82 anos, diz estar cada vez mais jovem e pede para não ser chamado de senhor. Com simpatia, se disponibilizou a responder perguntas para o Falando do B.

1- Como foi seu ingresso no JB? Quais cargos ocupou até chegar no momento
da criação do Caderno B?

Pela porta do Rádio Jornal do Brasil, onde dirigi e criei o Sistema “música e informação”.


2- No que exatamente consistiu a Reforma do JB, ocorrida nos anos 50?
A reforma do JB começou justamente nesse suplemento. Era um caderno de vanguarda inserido num mar de anúncios classificados. Com o sucesso do SDJB, a Condessa Pereira Carneiro resolveu dar uma cara e um conteúdo novo ao jornal. Chamou uma equipe de jornalistas, a maioria vinda do Diário Carioca. A cabeça da reforma do JB foi o Janio de Freitas. Você precisa falar com ele.


3- Como foi o processo de criação do Caderno B, tanto na parte gráfica quanto na de conteúdo?
Antes de criar o Caderno B inventei o Suplemento Dominical do Jornal do Jornal do Brasil que começou sendo um programa de crítica, comentários e assuntos culturais. O programa se transformou em caderno cultural, onde colaboraram: Antônio Houaiss, Ferreira Gullar, Mário Pedrosa, Mario Faustino, o Nogueira, o Rouanet e um punhado de jovens muito bem informados.


4- De que forma foi traçada a linha editorial do B?
O JB era editado em dois cadernos. O segundo era apenas o prosseguimento do primeiro e nele saiam os classificados. Eu achei que esses anúncios deveriam sair em caderno separado. O caderno A, atualidade; o C, classificados; o do meio, o B, assuntos culturais. O B, batizado pelo Jânio, era editado por mim. Como eu só sei editar desenhando as páginas.

Não houve um planejamento a priori. As coisas foram tomando forma aos poucos, à proporção que ia formando a equipe. Havia páginas com editorias fixas. Por exemplo, o Sérgio Cabral escrevia uma página chamada “Música naquela base”. O Noronha copidescava “Onde o Rio é mais carioca” com matéria produzida pelo Amaury e a Vera. O Newton Carlos, “O céu também é nosso”.


5- O prestígio do Caderno era em função da qualidade das matérias ou dos colunistas?
Da inovação, do bom jornalismo, da dedicação de todo mundo.


6- De que forma os colunistas eram escolhidos?
Pelo talento e bom texto. Pela honestidade profissional.


7- Como era trabalhar com pessoas famosas como Clarice Lispector, Marina Colasanti e Drummond?
Eu criei e editei o B durante cerca de seis anos. Depois vieram outros editores. No meu tempo eu não trabalhava com pessoas famosas, trabalhava com jovens competentes que depois se tornaram famosos.


8- Por qual motivo o senhor se demitiu do JB em 1964?
Quando eu me demiti, era o editor do B, diretor da Rádio JB, fazia o Caderno de Domingo e uma revistinha para crianças.

Um dia eu cheguei na rádio e a equipe de programação da música não estava lá. Me informaram que o Dr. Brito havia convocado o pessoal para orientá-los. Entrei na sala de reunião e lá estava o meu pessoal recebendo instruções. Fiquei furioso com a quebra de hierarquia. Só porque ele era o dono da empresa pensava que podia passar por cima. Eu me sentia o dono da rádio. Sai da sala e bati a minha carta de demissão. Naquele tempo com mais de 10 anos de serviço, a não ser por justa causa, ninguém podia ser demitido. Sem uma alta indenização. Abri mão de tudo.


9- Em termos de ambiente, colegas e linha editorial, em qual veículo o senhor gostou mais de trabalhar?
Eu não trabalho onde não gosto. No JB era ótimo. No Correio da Manhã, melhor ainda. No Sol foi o trabalho mais gratificante.


10- O caderno de hoje pode ser considerado tão bom quanto o Caderno B dos anos 60 e 70?
O próprio Jornal do Brasil piorou muito, O B de hoje não é nada. O JB perdeu a dignidade formal e de conteúdo. Mas tem gente boa lá.
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Por Daniela Frauches e Jéssica Lima

2 comentários:

  1. Bingo! Parabéns. Valorizou muito o blog. E o Janio? Ele sugeriu. Tentem. Não custa nada. Digam que foi o próprio Reinaldo que "cobrou".
    pc

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  2. Ótima entrevista. Parabéns pelo trabalho.

    Vendo que aqui moram jornalistas, deixo uma sugestão:

    www.o-balde.blogspot.com

    Blog do jornal O Balde, de Brasília.

    Abraços

    Equipe O Balde

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