Sobre nós


O blog “Falando do B” tem como objetivo resgatar a história de um grande sucesso do Jornal do Brasil, o Caderno B. Os alunos da FACHA (Méier) desejam mostrar o início desse suplemento, a sua fase áurea, os grandes escritores e jornalistas que trabalharam no caderno e o quanto ele foi importante, visto que inaugurou uma área cultural até então inexplorada pelo jornalismo brasileiro. Os cadernos culturais se transformaram em objeto de desejo da maioria dos jornais depois de sua criação. O Caderno B foi o pioneiro e até hoje nós podemos curtir esse trabalho diariamente no JB.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Entrevista: Evandro Teixeira



Seu primeiro contato com a fotografia
Na Bahia, onde nasci. Eu era garoto e tinha preparado uma caixa de cinema em que projetava fitas em cortes. Era uma caixa de madeira que fiz com uma luz atrás. Tinha ideia de ser escultor, a fotografia surgiu de repente na minha vida. Fui morar em Jequié para estudar e aprender a fotografia com Walter Lessa, que era do jornal de Jequié. Depois fui morar em Piaú e comprei uma câmera para fotografar, mas estudando paralelamente.Depois fui para Salvador (Bahia) e continuei o aprendizado de fotografia com Silvio Glauber Rocha, que era um fotógrafo de capital mais clássico. Paralelamente com isso, fiz um curso com Zé Medeiros, no Cruzeiro. Em 1957, um amigo meu, que era dentista e compositor da Bahia, falava que jornalismo na Bahia não tinha futuro. Me encorajei e fui para o Rio de Janeiro. Ele fez uma carta para o diretor do Jornal Diário da Notícia, que era matutino e vespertino. O Cruzeiro era uma revista que também pertencia ao Chateaubriand. Vim para o JB e ele me recebeu bem, me concedendo um estágio. Fui santo casamenteiro no Diário da Notícia em uma página dedicada a casamento. O diretor me chamou e disse que eu iria entrar no lugar de um cara que estava se aposentando, mas só poderia fotografar rico, pobre, branco, menos preto. No primeiro dia, achei um casamento na Gávea, mas era um negão “black power” casando com uma alemã e fotografei. Naquela época usava role flax, de display. Eu fotografei assim mesmo e quando voltei para a redação falei para o laboratorista, que era um português com apelido de Villar, que só achei um preto casando com uma loira. Villar disse que não tinha problema: ele viraria branco. Fomos para o Laboratório. O papel padrão daquela época da ampliação era de 24 da Kodak. O Villar revelou a cópia e o cara ficou branco. Eu bati a legenda. Naquela época, o fotógrafo mesmo fazia o texto-legenda, com no máximo quatro linhas. Por não ter seguindo as ordens do chefão, fui mandado embora. Uns 15 dias depois, voltei e era época de carnaval. Fui fotografar o Baile do Municipal, que era uma festa linda, a rigor. O importante do baile do Municipal não era a festa em si, eram as fantasias. Novamente quebrei a cara, não conseguindo fotografar. Eu e meu amigo pegamos as fotos do Cruzeiro, que também era nosso. Pegamos as fotos porque não tínhamos como fotografar. Era no primeiro andar e estávamos lá embaixo. O locutor subia para apresentar, mas a foto tinha que ser de frente e não de baixo. Não acertei chegar lá porque é complicado, até hoje me perco lá dentro. No dia seguinte fui para lá de novo, mas não podia quebrar a cara, se não estava frito. As escolas de samba se apresentavam na Avenida Rio Branco, não era aqui. Antigamente era na Avenida Rio Branco, Antonio Carlos, depois foi para Presidente Vargas, no Sambódramo. Eu me ergui e fiz um bom material, ganhando assim o emprego no Diário da Notícia. Comecei a carreira de jornalista no Rio de Janeiro. Fiquei até meados de 1962, quando fui convidado a trabalhar no Jornal do Brasil. Antigamente, o JB era a elite do jornalismo brasileiro, era uma coisa espetacular. Eu tive medo porque só tinha “cobra”. Comecei a fazer Copa do Mundo, em 1972, no Chile. Depois Olimpíadas. Até hoje venho fazendo isso e outras coberturas.


Formação acadêmica e possível aprendizado com a experiência
Aprendi muitas coisas. O curso de fotografia te ensina a perspectiva. Da um olhar mais plástico. Na Escola de Belas Artes tive mais uma ideia acadêmica, além de plástica da fotografia. Nenhuma universidade ensina a prática. A prática você aprende na pauleira quando você vai cobrir uma matéria na favela, alguma porrada na rua.

Caderno B do JB
O Jornal do Brasil, na década de 60, tinha um caderno dedicado à fotografia, em que íamos as ruas do Rio de Janeiro em busca de um Rio mais carioca. Criaram aquelas pautas. Eram coisas e fatos inusitados, cotidiano do Rio. Com o jornal tablóide mudou muito por ter diminuído de tamanho. O JB foi a grande escola do jornalismo brasileiro. Passaram grandes nomes do jornalismo, como Carlos Drummond de Andrade, Antonio Callado, Zuenir Ventura, Ana Maria Machado, Otto Lara Resende, entre outros. Hoje é um jornal de maior respeito.


Suas fotografias
Tem fotografia que dá mais trabalho que outras para produzir. No caso de fotos tiradas em tiroteio, você tem que se safar e sair bem, isso é um problema que dá mais dor de cabeça. Você tem que sair vivo dali, mas não deixando de fotografar. Não diria que tenho fotos de maior preferência porque cada pessoa tem um olhar ao fotografar, mas gosto de fotografias pela simplicidade, pelo inusitado. A foto do Vinicius foi tirada no dia do aniversário dele para matéria do caderno B. Chegando lá, ele estava enchendo a cara de cachaça e uísque, mas eu tinha horário para entregar. E lá pra tantas, falei que precisava fazer uma matéria com ele, tendo que ser fotos diferenciadas. Até o momento não tinha. "Já bati foto de você bebendo, cantando violão com Chico e com Tom, e beijando sua mulher Marquita. Não quero uma foto deste tipo". Eu não esperava, ele levantou e agarrou o Tom e o Chico e ficaram deitados ali. E dali eles não levantaram porque já estavam doidões. É uma foto premiada, está no Museu.

Fotos premiadas
Eu não tenho essa coisa de me levar pela premiação. Eu também não tiro partido de ter uma foto premiada, para mim é a mesma coisa. Eu acho ótimo, mas não significa que eu vá me vender e conquistar alguma coisa por aquela foto ser premiada. Para aquelas fotos que foram premiadas, maravilha, mas poderia ser sua, dele. Não fico tirando méritos e contando vantagens.

Por Regiane Esteves e Ana Cristina Ramalho

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