Sobre nós
O blog “Falando do B” tem como objetivo resgatar a história de um grande sucesso do Jornal do Brasil, o Caderno B. Os alunos da FACHA (Méier) desejam mostrar o início desse suplemento, a sua fase áurea, os grandes escritores e jornalistas que trabalharam no caderno e o quanto ele foi importante, visto que inaugurou uma área cultural até então inexplorada pelo jornalismo brasileiro. Os cadernos culturais se transformaram em objeto de desejo da maioria dos jornais depois de sua criação. O Caderno B foi o pioneiro e até hoje nós podemos curtir esse trabalho diariamente no JB.
domingo, 31 de maio de 2009
Diana Aragão escreve sobre Alicia Alonso
Mariléa Miranda contando sua história no JB
sexta-feira, 29 de maio de 2009
Entrevista: Marcelo Tognozzi
Trabalhei no JB entre 1987 e 1992.
2) Conte-nos um pouco dessa época no JB e sobre suas matérias no Caderno B.
Fiz várias matérias para o B. Cobri política em Brasília, Economia, geral, dirigi a sucursal de Salvador, fui editor da política na época em que a Luciana Villas Boas era uma espécie de supereditora de Nacional/Politica. Uma delas, de Brasilia, foi muito comentada. Uma entrevista com o Niemeyer que estava trabalhando na cidade na época em que José Aparecido era o governador. Saiu na edição de 9 de março de 1987. Fiz também uma das primeiras entrevistas com o Paulo Coelho numa grande matéria sobre magia. Ele ainda morava num apartamentinho de fundos em Copacabana, se não me engano na Dias da Rocha, e tinha publicado "O Diário de um Mago". Capa do B, a matéria sobre o malandro Moreira da Silva, com mil histórias. O promotor que usava o carro do traficante, o cara que vendida certidões da prefeitura em plena Presidente Vargas. E por aí vai.
Infelizmente eu não vejo, porque ficou difícil ler o JB diariamente, principalmente aqui em Brasilia. O jornal mudou muito e perdeu o peso de formador de opinião.
Significou muito, porque naquela época trabalhar no JB significava status profissional. Era um time de primeira, o melhor do jornalismo carioca. Aprendi muito, principalmente a não abrir mão de investigar, ouvir os dois lados, apurar fundo. Não havia denúncia publicada sem comprovação.
5) Lembra-se de alguma história interessante que tenha acontecido enquanto trabalhava no B?
Fiz também uma matéria fantástica com o Expedito Filho, em 1987. Foi manchete. Era sobre uma pseudo associação de coronéis e tenentes coronéis do Exército que servia de fachada para um golpe contra o Sarney. A matéria foi publicada num domingo. No fechamento da edição de segunda, o Zueinir estava no comandando da redação quando vários tiros foram dados nas janelas do JB. O atirador estava num carro estacionado no viaduto de acesso à Ponte, sentido Rio-Niteroi. Zuenir ficou branco, as pernas bambas, mas ainda teve forças para cravar a manchete daquela edição: Tiros no JB.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Evandro Teixeira e o Caderno B - II
"Até hoje ninguém sabe se Evandro tem algum acordo com Deus para demonstrar tanta sensibilidade numa atividade tão difícil que é o fotojornalismo. Evandro consegue, e o Papa deve ter recebido alguma mensagem para não contrariá-lo no exercício da profissão.
Aliás, falando em Papa, Evandro talvez seja o único fotógrafo no mundo para quem Sua Santidade toma a benção e se curva, atendendo aos seus pedidos, para deixar que sua arte seja exercida em toda plenitude.
Isso pode parecer exagero, mas não é. Era do conhecimento apenas do meio jornalístico o que aconteceu com o Evandro por ocasião da visita do Papa João Paulo II ao Brasil, em 1980. Quando o Papa se ajoelha para beijar o chão, na chegada ao Galeão, ainda na pista, Evandro perde a foto e não se faz de rogado e grita: "Repete aí, ó Seu Papa". O que é pior, ou melhor, o Papa espantado repete. Evandro então faz a foto e com um sorriso malicioso, sorriso daquelas pessoas que têm cumplicidade com Deus, diz; "A gente tem que tentar sempre a melhor foto. Até o Papa sabe disso". Até a algum tempo, se alguém comentasse isso fora do meio, iam dizer que é mentira. Não é. Tudo foi confirmado e se tornou público com a matéria do Caderno B do Jornal do Brasil de 09 de abril de 2000.
Dessa maneira, expor o sagrado ficou fácil. Percebemos isso quando vemos a foto do Papa olhando a mão que surge do nada, querendo mostrar que aquele que ela está procurando é o fotógrafo escolhido e parece que o Papa pergunta: "Quem é ele e o que ele tem que eu não tenho?". Deus responde: "Ele tem máquina fotográfica e é o Evandro Teixeira. Precisa mais?".
Valéria Fernandes - matérias "saborosas" para o B
Caderno preto
A jornalista Maria Lúcia Rangel trabalhou no caderdo B na década de 70, no auge da censura. “Nós tinhamos um caderno preto, imposto pelos censores, com nomes que não podiam ser citados,” conta Maria Lúcia. Um deles, era o Chico Buarque - tanto que entrevistei Julinho da Adelaide, nome que ele inventou para poder falar de sua obra na imprensa.
"Nós eramos jovens, indignados e estimulados pelo grande número de leitores que o jornal tinha na época,” lembra. “Mas o principal é que os editores, como o Humberto Vasconcellos, nos davam toda liberdade para escrever.”
fonte: http://www.luciaguimaraes.com.br
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Meninas do Caderno B
Christine Ajuz: a estagiária em pânico
Ainda não completara dois meses na casa quando a subeditora do Caderno B, Marina Colasanti, adentrou o salão da Reportagem Geral pedindo socorro ao chefe, Armando Strozemberg: "Por favor, amigo, preciso de um repórter que fale bem o francês para entrevistar a viúva do pintor russo Kandinsky. Ela está de passagem pelo Rio, vinda de São Paulo, onde foi para a Bienal de Artes Plásticas. É russa, está bem velhinha, e fala um francês com forte sotaque". Quando Armando me indicou pra missão, quase tive uma síncope: o Caderno B era o suprassumo, o patamar mais alto do JB, o mais sofisticado caderno de arte e cultura do país, e eu nem sabia direito quem era Kandinsky!!!! Imagine entrevistar uma senhora de idade, com dificuldades de articulação, falando uma língua que não era a dela - muito menos a minha! - sobre um assunto que eu desconhecia! Pensei que fosse desmaiar, mas meu chefe nem se abalou: "Vai pra Pesquisa", disse ele, e obedeci.
Entrei ofegante no Departamento de Pesquisa e expus meu problema aos colegas. Em cinco minutos tinha diante de mim um farto material sobre Wassily Kandinsky (1866-1944), "pintor e teórico russo, um dos mais importantes pioneiros da arte abstrata", segundo o Dicionário Oxford de Arte. É bem verdade que não houve tempo para aprofundamentos no assunto: a entrevista com a viúva estava marcada para duas horas mais tarde, no Copacabana Palace, e tive pouco mais de 60 minutos para dar uma cheirada no tema e não fazer feio diante dela. Levei cópias xerox do material pesquisado, que fui lendo no banco de trás da velha camionete Rural Willis até a porta do hotel. Pela primeira vez, estava em pânico, completamente insegura, e agradeci a Deus quando me abriu a porta do quarto uma senhora de 80 anos, pequena, um pouco curvada, com problemas de visão: ela certamente não notaria o estado de nervos em que se encontrava sua entrevistadora.
A conversa durou mais de uma hora, com Dona Nina muito solícita, me oferecendo comidas e bebidas, mostrando fotos antigas e livros com reproduções de quadros belíssimos de Kandinsky, de quem falava como se já não se tivessem passado três décadas de sua morte. Ela estava feliz com a homenagem que a XI Bienal de São Paulo prestava ao marido, mas reclamou muito do tempo chuvoso no Rio, que há cinco dias atrapalhava seus planos de turista. Gostei muito dela, e depois daquele encontro comecei a me interessar seriamente por artes plásticas: desde então, passo a maior parte do tempo dentro de museus e galerias nas minhas viagens, compro todos os catálogos das exposições que visito, tenho uma bela coleção de livros de arte, sou apaixonada por pintura flamenga e tenho um carinho todo especial por Wassily Kandinsky, de quem vi obras maravilhosas no Centro George Pompidou, em Paris, e no Museu Guggenheim, de Nova York. Afinal, por causa dele, no dia 11 de outubro de 1973 eu tive a minha primeira matéria assinada no Jornal do Brasil.
A escritora Marina Colasanti, então à frente do Caderno B, gostou e decidiu assinar o texto da estagiária à beira de um ataque de nervos, que você pode ler logo abaixo.O artista morreu em 13 de dezembro de 1944 - há quase 65 anos - e sua doce viúva foi assassinada 10 anos depois dessa entrevista, aos 90 de idade, em sua villa na Suíça, por um criminoso covarde e até hoje impune. "
Nas cores de Nina
Christine Ajuz
- Kandinsky foi o primeiro a dar à pintura a verdadeira expressão livre - a mais difícil, porque o pintor precisa conhecer perfeitamente o desenho, ter senso de composição e, sobretudo, ser poeta.Tranquila, serena, sem saudosismos, Nina Kandinsky fala do marido, falecido em 1944, como se não o visse apenas há uma semana. Ela chegou ao Rio no domingo, vinda de São Paulo, onde compareceu à inauguração da XII Bienal de Artes Plásticas que, este ano, presta homenagem ao grande artista russo, precursor da arte abstrata, pela primeira vez em exposição na América do Sul.No apartamento do Copacabana Palace, ela reclama do mau tempo, da chuva que lhe atrapalha os passeios pela cidade que "sempre quis conhecer", e relembra, com carinho, sua vida ao lado de um homem que "até sua morte, com quase 80 anos, deu formas, cores e conteúdo novos à arte".
O ARTISTA
Razão e Intuição no JB
Em 1959 , o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, embrião do que seria o Caderno B e sob a batuta de Reynaldo Jardim, publicou o manifesto neoconcretista,criado pela classe artística e intelectual do Rio de Janeiro,como pedra fundamental do movimento que reuniu personalidades como a artista plástica Lígia Clark ,Ferreira Gullar, Reinaldo Jardim, Theon Spanudis, Amílcar de Castro, Franz Weismann, e Lígia Pape.
O texto de Ferreira Gullar propunha uma ruptura com o movimento concretista capitaneado pelos paulistas, de cunho mais racional e influenciado pelo concretismo russo.Essa vanguarda estruturava sua criação na proposta de uma nova linguagem,racionalista ,influenciados pelos ares da modernidade que sopravam sobre a nova capital brasileira e acabaram por criar um novo recorte cultural .
Brasília nascia nos "50 anos em cinco" e Glauber Rocha o trazia o cinema novo enquanto a televisão providenciava um novo enquadramento ao olhar da sociedade.
Em 1956 o mesmo caderno já publicara a exposição concretista no Museu de Arte Moderna de São Paulo em apoio ao pensamento artistico de vanguarda.
(O manifesto)
Entretanto, para o grupo de criadores cariocas,não bastava a transformação da linguagem em novos padrões.Era preciso prescindir de qualquer regra e construir um olhar que retirasse o enquadramento do objeto de arte,transformando-o,como queriam os neoconcretistas,em não-objeto.Com essa afirmação propunha-se que o espectador criasse sua própria interpretação do objeto, manipulando-o em uso de seus proprios sentidos,seja na linguagem verbal,escrita,visual ou no contato com o elemento constituído fisicamente no espaço.
Esse novo conceito foi longamente explorado pelo suplemento ,em uma série de matérias que convidavam o leitor a construir sua própria percepção através da manipulação da criação artística,sem regras ou limitações com esquemas de montagem de estruturas e publicação de poesia neoconcreta.Estavam firmados então,os alicerces para a reforma gráfica que originou o caderno B,posicionando-o não somente como caderno feminino,proposta inicial do SDJB, mas como veiculo de divulgação das vanguardas artísticas da época.
Método de costurar pensamentos
Alberto Dines convidou Clarice para trabalhar no recém criado Caderno B em 1967. E lá ela permaneceu durante 6 anos, sendo cronista da página 2.
Clarice dizia que usava a técnica de "costurar para dentro". Esse método consistia em anotar frases durante todo o dia e em um segundo momento ela costurava essas idéias.
Realmente o recanto dos melhores
terça-feira, 26 de maio de 2009
Evandro Teixeira e o Caderno B
Em 1963, ingressou no Jornal do Brasil cobrindo os principais episódios políticos, sociais e esportivos do país e eventos importantes do cenário mundial. Com fotos inesquecíveis principalmente da época da Ditadura Militar, Evandro realizou excelentes trabalhos para o Caderno B.
Na inusitada foto abaixo, vemos Vinícius de Moraes, Tom Jobim e Chico Buarque posando para o fotógrafo sob um ângulo diferente, a foto foi uma "brincadeira" que estampou a capa do Caderno B na comemoração dos 60 anos do Jornal do Brasil.
REVIVENDO PICASSO (03/04/1982) - mais uma do Zózimo
Perdido, ao lado do pintor, na contemplação de sua mais famosa obra, Guernica, um nazista lhe perguntou:
- Foi você quem fez isto?
- Não, foram vocês.
Como Picasso, o diretor de Pra Frente Brasil, Roberto Faria, não fez nada que já não tivesse sido feito.
O jornalista Gilberto Cortes fala do B
No começo da carreira, fiz um estágio de uma semana no B, como parte do cursinho de Jornalismo do JB - que frequentei quando já estava na economia.
Quando o JB se mudou para a Avenida Brasil, numa primeira fase, as editorias - com exceção da Cidade e do Copy Desk, que eram abertas - ficavam confinadas em grandes salas. O Caderno B vinha logo depois da Geral e ficava ao lado da Economia, que tinha como vizinho do outro lado a Pesquisa.
Era um timaço: Rui Castro era redador/Subeditor; tinha os melhores críticos de cinema e música popular.
No Rio de Janeiro, dos anos 70 até meados dos anos 80, o Caderno B era referência geral - O Globo, não tinha credibilidade.
O JB lançava moda, expressões. Os grandes artistas iam falar e apresentar seus novos trabalhos no JB.
Os colunistas, então, eram fantásticos: Zózimo Barroso do Amaral (na crônica social), no auge do Rio, Carlinhos de Oliveira fazendo crônicas incríveis sobre a vida noturna, diurna, o desbunde, o olhar torto para a cidade; a crônica elegantérrima de Mestre Drumond. O que mais faltava? Ainda veio do B a Revista Domingo, com nova abordagem (isso em 1976).
Como 'vizinho', no JB admirava as meninas do B: Norma Curi, Maria Lúcia Rangel, Diana Aragão, Cleusa Maria, e tantas outras. Além da beleza natural, e de um belo texto, elas tinham o que mais faltava à Economia: espaço para escrever sobre temas alegres e convidativos."
segunda-feira, 25 de maio de 2009
1994: É o fim do caminho ...
PREOCUPADÍSSIMO (02/07/1985) - por Zózimo Barrozo Do Amaral
Refratário a críticas e observações contrárias a seu Governo, mesmo que partam de amigos íntimos e com intenção de colaborar, Brizola está pela primeira vez preocupadíssimo.
Até porque, pela primeira vez não dá para minimizar, como o Governador gosta de fazer, uma manifestação uníssona de 140 mil vozes.
Se Brizola não consegue mais ser popular sequer na arquibancada do Maracanã das duas, uma: ou endireita tudo o que está errado ou joga a toalha.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
quinta-feira, 21 de maio de 2009
1966 - O Festival Internacional da Canção
QUANDO CHORAR, por Clarice Lispector
Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda.
Homem chorar comove. Ele, o lutador, reconheceu sua luta às vezes inútil. Respeito muito o homem que chora. Eu já vi homem chorar.
terça-feira, 19 de maio de 2009
Reforma dos jornais cariocas no século XX
1977 - O mundo órfão de Charles Chaplin
segunda-feira, 18 de maio de 2009
INFIDELIDADE, por Zózimo Barrozo Do Amaral (15/04/1983)
- Antes à tarde do que nunca.
domingo, 17 de maio de 2009
Os longos anos de Evandro Teixeira no JB
Suplemento do Jornal do brasil
1980 - Morre o precursor da "aldeia global"
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Homem livre de Drummond
Aqui, o que se destaca não é exatamente o poeta, mas o cronista que se expressa em versos. Boa parte dos poemas dessa fase, antes de aparecer em livro, foi publicada como crônica na coluna de C.D.A. no Jornal do Brasil.
O poeta pendura as chuteiras!
Drummond e seu inconformismo!
Foto publicada no site alguma poesia
Em 1982, às vésperas dos 80 anos, o poeta expressa sua inconformidade com a destruição do Salto de Sete Quedas, um patrimônio natural do Brasil e da humanidade. Na edição de 9 de setembro, quando afinal se anunciava o fechamento das comportas para a criação do lago da hidrelétrica de Itaipu, Drummond publicou este poema no Jornal do Brasil. Em letras grandes, os versos ocuparam uma página inteira, a capa do Caderno B. O sentimento ecológico do poeta reverberou em todo o país. Um mês depois, ele voltaria à carga, com a crônica "Sete Quedas poderia ser salva" (JB, 07/10/1982). Nesse texto, Drummond transcreve una carta do engenheiro Octavio Marcondes Ferraz — o projetista da hidrelétrica de Paulo Afonso. A carta fora enviada ao poeta exatamente a propósito do poema "Adeus a Sete Quedas". Ferraz revela que em 1963 apresentara projeto intitulado "Aproveitamento do Potencial do Salto de Sete Quedas". A idéia do engenheiro era preservacionista. "Em Paulo Afonso", diz ele, "projetei a usina preservando a catarata que Deus nos deu." "Aproveitamento, em vez de imolação", destaca Drummond. O argumento do governo militar para a destruição é que seria necessário considerar uma "solução simétrica" em relação ao Paraguai. No final, diz Drummond, os paraguaios não ficaram tão satisfeitos e Sete Quedas vai passar às novas gerações apenas como uma pálida notícia, um cartão postal de longínquo passado. "Sete quedas por nós passaram,/ e não soubemos, ah, não soubemos amá-las".
Zuenir no JB!
Chico Buarque de Holanda, por Clarice Lispector (4/2/1968)
Chico é lindo e é tímido, e é triste. Ah, como eu gostaria de dizer-lhe alguma coisa - o quê? - que diminuísse a sua tristeza.
Contei a meus dois filhos com quem eu estivera. E eles, se não me respeitam mais, ficaram boquiabertos.
Então eu tive uma idéia e não sei se ela irá adiante; se for, contarei a vocês. Era chamar Chico e Carlinhos para me visitar em casa. Eu os verei de novo, e sobretudo meus filhos os verão. Falei dessa idéia e um de meus filhos disse que não queria. Perguntei por quê. Respondeu: porque ele é uma personalidade. Eu lhe disse: mas você também é, aos sete anos de idade ouvia tudo de Beethoven que tínhamos e pedia mais, tanto gostava e sentia e entendia.
Mas quero respeitar meu filho. Disse-lhe: se eu convidar Chico, se ele vier, você só aperta a mão dele e, se quiser, sai da sala.
Também achei Carlinhos triste. Perguntei: por que estamos tão tristes? Respondeu: é assim mesmo.
É assim mesmo.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Uma expressão social.
Tinhorão, José Ramos. "Música de Carnaval (I)", Jornal do Brasil - 2º Caderno, 05/02/1960. Rio de Janeiro - RJ.
José Ramos Tinhorão
"...a música sertaneja compõe 40% da produção total de música popular no Brasil. (...) Feita para atender ao gosto de populações rurais da periferia das cidades, e ainda a camadas da própria área urbana ainda não integradas no novo universo cultural a que foram atraídas, a música sertaneja passa a incorporar, num dado momento, os confusos e desajeitados impulsos de ascensão social do seu publico. E, assim, num processo em tudo paralelo ao que se verifica ao nível da classe média urbana, quando adota instrumental eletrônico e estilos estrangeiros para 'atualização' e 'desenvolvimento', artistas e público de origem rural rejeitam seus ritmos e características locais (que lhe lembram o estágio de pobreza e subdesenvolvimento de que desejam sair) e partem para a salada de estilos que representa exatamente o seu momento de choque cultural-social".
Para vencer, MPB terá que aprender inglês.
José Ramos Tinhorão
No ano de 1959, entrou no “Jornal do Brasil”, onde atuou como redator e colaborador dos “Cadernos de Estudos Brasileiros” e “Caderno B”. Ao assumir uma coluna controversa no jornal, entre os anos de 1975 a 1980, comprou briga com grandes nomes da MPB, chamando, por exemplo, de “boi com abóbora” um samba de Chico Buarque ou batendo boca com Paulinho da Viola.
Seu primeiro livro sobre a história da música popular brasileira foi escrito em 1966, “Música Popular: um tema em debate”. Ao todo, sua obra já chega a mais de 20 publicações. Durante sua vida, reuniu cerca de 6,5 mil discos de 76 e 78 rpm, que foram gravados e lançados comercialmente entre os anos de 1902 e 1964, e 6 mil LPs (long-plays ou discos de 33 rpm), com datas de lançamento entre 1960 e meados da década de 1990.
O seu acervo musical foi comprado pelo Institudo Moreira Salles e está disponível na internet. Tinhorão chegou a pensar em vender o seu material na rua, pois não encontrava compradores que se interessavam.
Reynaldo Jardim um dos responsáveis pela reforma do JB.
Reynaldo Jardim participou, nos anos 50, da Reforma do Jornal do Brasil - onde criou e editou o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, o Caderno de Domingo e o Caderno B. Ainda no mesmo grupo, dirigiu a Radio Jornal do Brasil.
O Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, o SDJB, passou de páginas de receitas de bolo ao mais importante suplemento literário de poesia concreta do Brasil, por onde passaram críticos e escritores de grande nome, como Oliveira Bastos, Mário Faustino, entre outros.
Ao se demitir do JB (devido à repressão militar), em 1964, Reynaldo Jardim continuou a exercer atividades de grande destaque na imprensa do Rio de Janeiro: foi diretor da revista Senhor e diretor de telejornalismo da recém-inaugurada TV Globo.Reynaldo possui dez livros de poesia publicados, entre eles Joana em Flor e Maria Bethânia, Guerreira, Guerrilha. Seu mais recente livro A Lagartixa Escorregante na Parede de Domingo. Como poeta compulsivo, Reynaldo Jardim manteve a única coluna diária de poesia em jornal, no Caderno B do Jornal do Brasil de 2004 a 2006, quando a coluna passou a semanal. Em 1968 havia tido a mesma experiência, de um poema por dia, no Jornal de Vanguarda, exibido pela TV Rio quando, ao vivo, comentava em versos o acontecimento mais importante do dia.
Fausto Wolff, escritor e colunista do Jornal do Brasil.
De família humilde, mudou-se para o Rio aos 18. Tornou-se jornalista em 1954 e passou por momentos históricos no jornalismo, fazendo parte da turma que editou o primeiro O Pasquim, a partir de 1969.
Também esteve por trás da volta do jornal O Pasquim 21, no começo da década. Além do jornal, também atuou como diretor de teatro e cinema e professor de literatura nas universidades de Copenhague e Nápoles.
Escreveu vários livros, entre romances, livros históricos e compilações de crônicas, entre eles Cem poemas de amor e uma canção despreocupada, A imprensa livre de Fausto Wolff, O acrobata pede desculpas e cai e seu último livro, A milésima segunda noite, lançado em 2005 pela editora Bertrand Brasil.
- Seus livros evocam uma certa fantasmagoria de ordem interna típica de Edgar Allan Poe: o horror que vem de dentro do ser, pasmo ante um mundo calcado em conceitos de realidade que não admite - declarou o escritor Fernando Toledo sobre sua obra.
Também se responsabilizou por traduções de livros, como Detonando a notícia: Como a mídia corrói a democracia americana, de James Fallows. Foi agraciado com o Prêmio Jabuti com o romance À mão esquerda.
Em áreas mais leves, também editou volumes das célebres Anedotas do Pasquim, lançadas pela editora do jornal, Codecri.
Ultimamente, mantinha o site O Lobo (http://www.olobo.net), com compilações de seus textos, e fazia uma coluna diária no Caderno B, para o qual veio trazido pelo chargista e escritor Ziraldo, a quem conheceu ainda na época do Pasquim. Lá, lançava mão de personagens como Natanael Jebão, que popularizou. Diariamente, criticava a mídia e novidades como o celular e o computador.
– Vai chegando a hora em que a turma vai indo embora – lamenta Ziraldo.
- Brigamos muito, nos amamos muito, vivemos muito juntos, muito separados. É como um irmão desgarrado que morre. Ao lado de Dalton Trevisan e Rubem Fonseca, Fausto era um dos melhores contistas do Brasil. Era também um excelente romancista. Era um gênio como autor de contos. Escreveu primorosamente como jornalista.
Chico Caruso sobre Fausto Wolff
Era muito bom escritor, as crônicas dele no Jornal do Brasil eram ótimas, inteligentes e atuais. Era da geração do Pasquim, de um Rio de Janeiro que passou por revoluções no jornalismo.
2004: Chico Buarque faz 60 anos
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Príncipe Charles e Princesa Diana
Palavras de Alberto Dines insuflam a força do B
'09/12/2008 - Observatório da Imprensa
LADO B DO JORNALISMO - Eles não gostam dos cadernos culturais
(Alberto Dines)
O "Caderno B" do Jornal do Brasil - inventado por Reynaldo Jardim em meados dos anos 1950 - foi uma síntese do que hoje se chama "jornalismo cultural". Começou reunindo as magníficas sobras do dia anterior e aos poucos transformou-se num caderno de cultura.
É necessário ressaltar que com uma equipe de jovens colaboradores (entre eles Jânio de Freitas, Carlos Lemos e Wilson Figueiredo), Odylo Costa Filho, no cargo de editor chefe do JB, introduziu, a partir de 1956, profundas modificações gráfico-editoriais no diário. O jornal, já estruturado como empresa, havia adquirido novos equipamentos gráficos necessários para sua modernização.
A reforma gráfica do JB ficou a cargo do escultor mineiro Amílcar de Castro, que inspirado no concretismo romperia "a espinha-dorsal que dividia a antiga diagramação em duas metades simétricas" (Gaudêncio Junior, 2005: 2). Abusando do branco do papel, ele abria maior espaço entre as colunas, eliminando os fios que antes as dividiam e criando contrastes entre os elementos verticais e horizontais para orientar o leitor por uma página mais funcional e atraente. As mudanças dão cara nova ao jornal, que deixa para trás o perfil de "jornal praticamente sem notícias, encostado nos anúncios classificados e vivendo em função destes, [... e] com material gráfico arcaico, com fios grossos, tipos que borravam e uma impressora envelhecida" (Figueiredo apud Gaudêncio Junior, 2005: 4).
Para Gaudêncio Junior (2005: 2), o arrojo gráfico acentuava a "ousadia intelectual" do jornal. Segundo Alberto Dines, que viria a ser, mais tarde, editor-chefe do jornal, o novo modelo gráfico e editorial do JB seria, nos próximos 30 anos, "copiado do Oiapoque ao Chuí" (Alves de Abreu; Lattman-Weltmann e Rocha, 2003: 87).
Em 1956, o JB já tinha lançado o inovador Suplemento Dominical que "trazia um pouco de tudo: artes plásticas, teatro, cinema, ciências, ensaios literários e poesia" (Jornal do Brasil, 2000). O poeta Ferreira Gullar – que participou do início do projeto com o poeta Mário Faustino – lembra que o suplemento causou muito impacto na época, influenciando e lançando artistas jovens, principalmente ligadas ao movimento neoconcreto. Segundo ele, o suplemento apresentava "uma filosofia, uma visão", lançando idéias e movimentos (2007: 1). O suplemento serviria de embrião para o Caderno B, lançado em 1960, oferecendo cobertura de eventos culturais ao leitor e textos criativos de escritores como Clarice Lispector, Carlinhos de Oliveira e Ferreira Gullar, que contribuíam regularmente para o jornal. Outra seção do jornal, a página de Esportes, funcionava como "um verdadeiro laboratório de experimentos dentro do jornal" (Alves de Abreu; Lattman-Weltmann e Rocha, 2003: 71).
É dentro deste contexto de modernização que Alberto Dines assume a direção do jornal, em janeiro de 1962. Consolidando as reformas iniciadas por Odylo, Dines introduziu várias inovações à produção do JB: relacionadas à sistematização de rotinas e práticas de produção de notícias. O jornal passou a ser planejado mais cedo – logo de manhã – o que mostra a preocupação de tentar impor uma estrutura sobre o tempo que lhe permitisse levar a cabo o seu trabalho diário.
Boitempo de Drummond
A obra Boitempo, de Carlos Drummond de Andrade foi publicada em três volumes nos anos de 1968, 1973 e 1979. É considerada como um testemunho biográfico do poeta.
Maria Lúcia Rangel
Foto publicada no site de Lucia Guimarães
A jornalista Maria Lúcia Rangel, cujo caderno de telefones, escrito em caligrafia impecável, é um tesouro e testemunha a riqueza de sua experiência profissional, foi integrante de uma das melhores equipes de repórteres culturais - a redação do Caderno B do Jornal do Brasil. No auge da censura, na década de 70, a cobertura exigia não só imaginação mas envolvia risco. “Nós tinhamos um caderno preto, imposto pelos censores, com nomes que não podiam ser citados,” conta Maria Lúcia. Um deles, era o Chico Buarque - tanto que entrevistei Julinho da Adelaide, nome que ele inventou para poder falar de sua obra na imprensa.”
Quando fez uma reportagem sobre famílias de desaparecidos políticos, o nome de Maria Lúcia foi omitido por recomendação do editor, que temia represálias contra a repórter. “Nós eramos jovens, indignados e estimulados pelo grande número de leitores que o jornal tinha na época,” lembra. “Mas o principal é que os editores, como o Humberto Vasconcellos, nos davam toda liberdade para escrever.”
A casa dos grades
Nessa matéria percebemos que o caderno B foi a casa dos grandes literários vanguardas, na época de ápice do suprimento. Personalidades brilhantes como Tárik de Souza, Fernando Sabino,
Ancelmo Góis passaram pelas redações do B. Vale a pena conferir!
Matéria publicada pelo JL Méier na edição especial sobre o Jornal doBrasil em junho de 2005. Essa edição especial foi elaborada pelos alunos do TCC ( Trabalho de Conclusão de Curso) da FACHA Méier.
http://www.facha.edu.br/publicacoes/08_jl_meier.asp
Em 2008, Bzão completou dois anos no Caderno B do JB
Conhecido como topetudo e usando sempre uma camisa preta com a letra B. Tem uma banda de rock, uma gata branca, uma namorada e leva um estilo de vida alternativo. "Os outros personagens que se relacionam com ele também: sua namorada Bzuda, o primo Bzinho e o amigo Gogó".O personagem foi criado por ocasião do Dia Mundial do Rock, comemorado sempre em 13 de julho. Até agosto de 2007, as tiras do Bzão saíam uma vez por semana na BdeBanda. O editor decidiu acabar com a coluna e promoveu o roqueiro para a seção Tiras, ao lado de Ota, Ciça e André Dahmer, publicado de segunda a sexta. Além do jornal impresso, as tiras do Bzão são divulgadas pela internet (www.fotolog.com/jornaldorock) e através de exposições em shows de rock.
1977: É aprovada a Lei do Divórcio
Gírias consolidadas pela imprensa
O colunista Zózimo Barroso do Amaral registrou inúmeras palavras e expressões de gírias na célebre coluna social que fazia para o Jornal do Brasil, muitas das quais foram depois incorporadas à língua. No dia catorze de fevereiro de 1970, comentando a forma cautelosa com que famoso músico reentrara na atmosfera brasileira, depois de uma temporada no exterior, Zózimo escreveu no Caderno B: ''Durante o carnaval, na moita, chegou da Europa o Wilson Simonal''. ''Na moita'' é resquício de um tempo em que alguém podia ocultar-se no capim que grassava, primeiramente no campo, e depois também nas cidades.
Por complicada redução de palavra bem brasileira, combinada com insólita influência do inglês, ''niver'' passou a designar festa de aniversário. Nos finais dos anos sessenta, encontramos registro na imprensa que aludia à festa que um marido dera aos amigos ''para festejar o niver de sua bonita e louríssima esposa''.
Tão logo o dinheiro deixou de ser apenas moeda de metal e passou a ser impresso em papel, surgiram os qualificativos para nota: ''nota alta'', ''nota graúda'', ''nota violenta'', ''nota viva'', ''nota preta''.
Ainda não estava oficializada a existência do novo tipo que oferecia prestação de serviços sexuais extraordinários, a conhecida garota-de-programa, mas a imprensa já registrava, no alvorecer de 1970, que ''sair com ela custa uma nota alta''. Primeiramente, na ''garçonnière'', palavra francesa que designava o apartamento para este fim. E mais tarde, no motel, do inglês ''motel'', que designou originalmente hotel de beira de estrada, freqüentado preferencialmente por viajantes e com garagem para cada apartamento.
Os novos costumes retiraram os eufemismos e o motel substituiu a ''garçonnière'' em escala industrial.
terça-feira, 12 de maio de 2009
1984: "Memórias do Cárcere" estreia nos cinemas do Rio
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Clarice sempre dava show
Olhar-se ao espelho e dizer-se deslumbrada: Como sou misteriosa. Sou tão delicada e forte. E a curva dos lábios manteve a inocência.
Não há homem ou mulher que por acaso não se tenha olhado ao espelho e se surpreendido consigo próprio. Por uma fração de segundo a gente se vê como a um objeto a ser olhado. A isto se chamaria talvez de narcisismo, mas eu chamaria de: alegria de ser. Alegria de encontrar na figura exterior os ecos da figura interna: ah, então é verdade que eu não me imaginei, eu existo.
Como tudo começou...
Não era um suplemento literário, ensaístico, como os do Estado de S. Paulo, do Correio da Manhã e Diário de Notícias, montados em cima de rodapés assinados pelos "nomões" da crítica literária na boa tradição do feuilleton europeu. O "B" era uma pausa para o jornalismo de qualidade, grandes fotos, textos esmerados completos, grandes entrevistas, resenhas estimulantes, pausa para o prazer de ler e o dever de pensar.
Alberto Dines e sua coragem!
A morte de Salvador Allende (12/09/1973)Uma das mais importantes páginas do jornalismo nacional foi escrita em 12 de setembro de 1973, quando Alberto Dines chefiava a redação do JORNAL DO BRASIL. Na véspera, em Santiago, no Chile, eclodia o golpe contra o governo do presidente Salvador Allende, que foi achado morto num dos gabinetes do Palácio de La Moneda - e a partir daí a ditadura de Augusto Pinochet se instalaria de vez no país. Os censores brasileiros, que na época exerciam seu controle nas redações dos jornais através de bilhetinhos ou telefonemas, haviam determinado ao JB que a notícia da morte de Allende não tivesse nenhum destaque na primeira página. Nada de títulos garrafais, muito menos fotos abertas em várias colunas. Pois bem. Uma solução teria que ser encontrada, o jornal tinha que driblar de algum jeito a imposição da censura. Fez-se então uma primeira página sem manchete alguma, sem uma fotografia sequer, só com texto - as letras, de corpo 24, eram as maiores que os equipamentos da época permitiam. Ou seja: além do tradicional L de anúncios classificados, a morte do presidente chileno era o único assunto da primeira página do jornal. O impacto foi grande, muito maior do que qualquer título ou chamada teria. Uma edição que já foi descrita como uma das mais subversivas da história do jornal. Nas linhas finais do texto era descrito o trabalho do enviado especial do JB a Santiago, Humberto Vasconcelos, "que assistiu aos últimos momentos do governo Allende e destacou que os esquerdistas foram tomados de surpresa com a ação militar, que pôs fim a 41 anos de normalidade constitucional no Chile."
sábado, 9 de maio de 2009
1980 - Cartola, um vazio se fez no samba
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Sempre o Zózimo
"Amanheceu ontem no aeroporto internacional do Rio, chegando de Nova Iorque, o comediante Jô Soares.
"Chamava grande atenção no salão da alfândega pelo porte - o próprio e o de sua bagagem."
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Curiosidades do B
Na década de 70, o caderno tentava burlar a censura imposta pela Ditadura Militar, publicando notícias de personalidades vetadas, através da utilização de pseudônimos, como conta a jornalista Maria Lúcia Rangel: “Nós tínhamos um caderno preto, imposto pelos censores, com nomes que não podiam ser citados. Um deles era o Chico Buarque - tanto que entrevistei Julinho da Adelaide, nome que ele inventou para poder falar de sua obra na imprensa”.
Homem de Idéias
Marina Colasanti: Como quem volta
Existe o novo? me pergunto. Um novo desvinculado de tudo o que o antecedeu, um novo primeiro, inaugural, que nasce consigo?
Quando entrei no Caderno B a primeira vez, havia palmeirinhas no patamar da escada, vidros jateados com arabescos separando as salas e linóleo verde no tampo das mesas, debaixo das máquinas de escrever. Eu também tinha um estremecimento de palmeiras na alma, farfalhar de medo e insegurança. Tudo era novo para mim. Vinha de belas-artes, jornalismo só se aprendia na redação e era terreno de gente atirada, ruidosa, homens, de preferência. Eu ali hesitante, sem me sentir atirada, sem saber onde me punha, sem saber como agir, o que dizer, sem saber. E nada ruidosa.
Anos depois chegaria ao jornal armada, porque havia ameaça de invasão por parte dos militares. Entreguei a Carlos Lemos, então secretário do jornal, a pistola Beretta 22 que levava na bolsa, quase uma bijuteria que meu pai havia me dado para me proteger, porque morava sozinha com meu irmão no Parque Lage. Não lembro, mas certamente Lemos sorriu do meu gesto de valentia. Já não era a mocinha hesitante que havia chegado àquela casa, era a jornalista disposta a defendê-la.