Sobre nós


O blog “Falando do B” tem como objetivo resgatar a história de um grande sucesso do Jornal do Brasil, o Caderno B. Os alunos da FACHA (Méier) desejam mostrar o início desse suplemento, a sua fase áurea, os grandes escritores e jornalistas que trabalharam no caderno e o quanto ele foi importante, visto que inaugurou uma área cultural até então inexplorada pelo jornalismo brasileiro. Os cadernos culturais se transformaram em objeto de desejo da maioria dos jornais depois de sua criação. O Caderno B foi o pioneiro e até hoje nós podemos curtir esse trabalho diariamente no JB.

domingo, 31 de maio de 2009

Crítica do show de Ney Matogrosso


Elizeth Cardoso: perfeição aos 50 anos de carreira - Diana Aragão

Diana Aragão escreve sobre Alicia Alonso

Revirando o baú, a grande jornalista e crítica Diana Aragão encontrou algumas de suas matérias feitas para o B e colabora com o nosso blog!

Mariléa Miranda contando sua história no JB

"Entrei para o JB em 19 de março de 1973, quando eu ainda morava em Brasília, para onde meu ex-marido foi transferido. Trabalhei na Reportagem Geral durante anos e anos, como repórter, cobrindo vários setores, principalmente as áreas de Educação e Justiça, como repórter. Em 1989, fui para a AgênciaJB, a primeira do Brasil e a primeira a ter um jornal online no país. Mas nunca trabalhei no Caderno B. Até poderia, pois quando retornei de Brasília em outubro/novembro de 1973, estava grávida e a Geral exigia muito. As coberturas do B, à época, eram mais amenas, não exigiam o dia-a-dia. Na minha ansiedade de lamber minhas crias (ainda existe esta expressão?), ou seja, ler minhas matérias nas páginas todos os dias, optei por ficar na antiga Reportagem Geral, que depois se chamou Cidade e Editoria Rio."

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Entrevista: Marcelo Tognozzi

Grande repórter do JB, Marcelo Tognozzi conta para o nosso blog algumas aventuras que passou enquanto trabalhava no jornal e sobre suas matérias para o Caderno B.

1) Trabalhou durante quanto tempo no JB?
Trabalhei no JB entre 1987 e 1992.


2) Conte-nos um pouco dessa época no JB e sobre suas matérias no Caderno B.
Fiz várias matérias para o B. Cobri política em Brasília, Economia, geral, dirigi a sucursal de Salvador, fui editor da política na época em que a Luciana Villas Boas era uma espécie de supereditora de Nacional/Politica. Uma delas, de Brasilia, foi muito comentada. Uma entrevista com o Niemeyer que estava trabalhando na cidade na época em que José Aparecido era o governador. Saiu na edição de 9 de março de 1987. Fiz também uma das primeiras entrevistas com o Paulo Coelho numa grande matéria sobre magia. Ele ainda morava num apartamentinho de fundos em Copacabana, se não me engano na Dias da Rocha, e tinha publicado "O Diário de um Mago". Capa do B, a matéria sobre o malandro Moreira da Silva, com mil histórias. O promotor que usava o carro do traficante, o cara que vendida certidões da prefeitura em plena Presidente Vargas. E por aí vai.


3) Como vê o Caderno B hoje, que foi o pioneiro no jornalismo cultural?
Infelizmente eu não vejo, porque ficou difícil ler o JB diariamente, principalmente aqui em Brasilia. O jornal mudou muito e perdeu o peso de formador de opinião.

4) O que significou para sua carreira trabalhar no JB?
Significou muito, porque naquela época trabalhar no JB significava status profissional. Era um time de primeira, o melhor do jornalismo carioca. Aprendi muito, principalmente a não abrir mão de investigar, ouvir os dois lados, apurar fundo. Não havia denúncia publicada sem comprovação.

5) Lembra-se de alguma história interessante que tenha acontecido enquanto trabalhava no B?

Lembro sim. Era 1º de maio de 1989. Eu fazia parte da editoria de reportagem especial, mais conhecida como swat, comandada pela Ruth de Aquino. Fui cobrir a comemoração em Volta Redonda. No ano anterior a CSN fora invadida por tropas do Exército durante uma greve e três operários morreram no tiroteio. Havia muitos políticos, como o Brizola e o Prestes. O Niemeyer fez um monumento em homenagem aos operários mortos, um monumento lindo que estava sendo inaugurado. Fizeram aquela solenidade bonita, discursos, coisa e tal. Na hora de voltar para o Rio, descobri que o nosso motorista estava sem dormir há dois dias. Liguei para o JB e disse que não iria voltar, porque não achava justo me arriscar com um motorista sonado na Serra das Araras. A Ruth autorizou dormir no Hotel Bela Vista. Passei a matéria por telex e o fotógrafo, Marco Antonio Teixeira, mandou seu material por telefoto (não tinha internet). A telefoto tinha uma barulinho típico: íííííííííííííí. Às 3h20 da manhã acordei com um estrondo. Minha cama sacudiu. Uma bomba mandou pelos ares o monumento do Niemeyer por obra e graça de um comando terrorista ligado ao serviço secreto do Exército. O motorista não acordou. Tivemos que arrombar a porta do quarto para pegar a chave do carro. Estávamos a uns mil metros do local e os vidros das janelas estilhaçaram com a força da explosão. E o cara roncava o sono dos justos... Eu era o único jornalista ali. Cheguei no local, comecei a apurar a praça onde ficava o monumento, tinha muita fumaça e um cheiro forte de enxofre. Tudo deserto, sem viva alma. O monumento - ou o que restou dele - estava no chão. Liguei para a Rádio JB. Ninguém atendia. Tinha um puta furo e não podia colocar no ar. Isso dá uma angústia desgraçada. Depois de várias tentativas liguei para a casa do Tim Lopes, meu arquiamigo de décadas. Passei o lide curto e grosso, porque só tinha uma ou duas fichas e a ligação do orelhão podia cair a qualquer momento (naquela época orelhão era movido a ficha). Foi o Tim quem conseguiu passar a notícia que a Rádio deu em primeira mão, furando todo mundo. Horas depois Volta Redonda virou um formigueiro de repórteres e fotógrafos, mas só nós tínhamos uma testemunha, a qual foi devidamente escondida numa fazenda em Piraí. No dia seguinte, um alto-forno da CSN explodiu sem qualquer motivo aparente. Dois operários morreram carbonizados. O que era para ser uma cobertura de um dia virou um plantão de um mês. Até hoje, 20 anos depois, os culpados não foram identificados. A identidade da nossa testemunha nunca foi revelada.


Fiz também uma matéria fantástica com o Expedito Filho, em 1987. Foi manchete. Era sobre uma pseudo associação de coronéis e tenentes coronéis do Exército que servia de fachada para um golpe contra o Sarney. A matéria foi publicada num domingo. No fechamento da edição de segunda, o Zueinir estava no comandando da redação quando vários tiros foram dados nas janelas do JB. O atirador estava num carro estacionado no viaduto de acesso à Ponte, sentido Rio-Niteroi. Zuenir ficou branco, as pernas bambas, mas ainda teve forças para cravar a manchete daquela edição: Tiros no JB.

Quanta felicidade!

Esse trecho retirado do texto "Adeus, vou me embora!", de Clarice Lispector, mostra a grande afinidade que a escritora tinha ao escrever no caderno b. E relata a aproximidade que ela estabelecia com seu publico leitor

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Evandro Teixeira e o Caderno B - II


Gostaria de acrescentar mais uma das ilustres fotografias de Evandro Teixeira, o Mestre do Fotojornalismo.
Evandro registrou imagens da primeira visita do Papa João Paulo II ao Brasil.




"O Papa deve ter recebido alguma mensagem para não contrariá-lo no exercício da profissão".

"Até hoje ninguém sabe se Evandro tem algum acordo com Deus para demonstrar tanta sensibilidade numa atividade tão difícil que é o fotojornalismo. Evandro consegue, e o Papa deve ter recebido alguma mensagem para não contrariá-lo no exercício da profissão.

Aliás, falando em Papa, Evandro talvez seja o único fotógrafo no mundo para quem Sua Santidade toma a benção e se curva, atendendo aos seus pedidos, para deixar que sua arte seja exercida em toda plenitude.

Isso pode parecer exagero, mas não é. Era do conhecimento apenas do meio jornalístico o que aconteceu com o Evandro por ocasião da visita do Papa João Paulo II ao Brasil, em 1980. Quando o Papa se ajoelha para beijar o chão, na chegada ao Galeão, ainda na pista, Evandro perde a foto e não se faz de rogado e grita: "Repete aí, ó Seu Papa". O que é pior, ou melhor, o Papa espantado repete. Evandro então faz a foto e com um sorriso malicioso, sorriso daquelas pessoas que têm cumplicidade com Deus, diz; "A gente tem que tentar sempre a melhor foto. Até o Papa sabe disso". Até a algum tempo, se alguém comentasse isso fora do meio, iam dizer que é mentira. Não é. Tudo foi confirmado e se tornou público com a matéria do Caderno B do Jornal do Brasil de 09 de abril de 2000.

Dessa maneira, expor o sagrado ficou fácil. Percebemos isso quando vemos a foto do Papa olhando a mão que surge do nada, querendo mostrar que aquele que ela está procurando é o fotógrafo escolhido e parece que o Papa pergunta: "Quem é ele e o que ele tem que eu não tenho?". Deus responde: "Ele tem máquina fotográfica e é o Evandro Teixeira. Precisa mais?".


De repente, morreu: João Guimarães Rosa


Valéria Fernandes - matérias "saborosas" para o B


A jornalista conta um pouco da época em que trabalhou no Caderno B: "Naquela época - anos 80 - raramente assinava-se matéria no primeiro caderno. Só as especiais, ou dominicais, como chamávamos. Escrever no B, além de ter o nome no jornal e dividir o espaço com colunistas e escritores renomados, como Drumond e Ferreira Goulart, significava poder trabalhar o texto e escrever muito sobre coisas inusitadas. Fiz algumas matérias bem "saborosas" sobre o envolvimento das escolas de samba com o jogo do bicho. Também era comum escrevermos em dobradinha. Lilian Newlands era parceira constante nesse tema."

Caderno preto

Caderno B, década de 70, Maria Lúcia Ragel á direita

A jornalista Maria Lúcia Rangel trabalhou no caderdo B na década de 70, no auge da censura. “Nós tinhamos um caderno preto, imposto pelos censores, com nomes que não podiam ser citados,” conta Maria Lúcia. Um deles, era o Chico Buarque - tanto que entrevistei Julinho da Adelaide, nome que ele inventou para poder falar de sua obra na imprensa.

"Nós eramos jovens, indignados e estimulados pelo grande número de leitores que o jornal tinha na época,” lembra. “Mas o principal é que os editores, como o Humberto Vasconcellos, nos davam toda liberdade para escrever.”

fonte: http://www.luciaguimaraes.com.br





quarta-feira, 27 de maio de 2009

Meninas do Caderno B

A condessa Pereira Carneiro herda em 1954 o Jornal do Brasil, e marca na história da empresa importante reforma editorial, gráfica e textual, quando aparece criações publicadas até hoje, como o Caderno B.
O B divulga assuntos de cultura tratados com muita invenção, mas sua peculiaridade foi ser escrito por jornalistas. Lá mulheres escrevem para mulheres. As gerações 60-80 vivem a crescente urbanização e número elevado de brasileiras trabalha fora de casa. Com a regulamentação do Jornalismo, elas passam a disputar lugar com o gênero oposto, e a feminilidade abre espaço na divulgação de cultura do JB; como diziam, eram as “meninas do B”, que participam do movimento por direitos de cidadania e igualdade nos anos 80. Mas a tradição do JB nomeia homens para postos de destaque, nenhuma delas ocupa a editoria nesse período.

Christine Ajuz: a estagiária em pânico

Christine Ajuz deu o seu depoimento ao nosso blog e contou sobre a primeira reportagem em que assinou uma matéria no Caderno B. Obrigada pela colaboração!




Mme. Kandinsky e a estagiária em pânico


"Comecei meu estágio no Jornal do Brasil no dia 13 de agosto de 1973, na Reportagem Geral. Era aluna de Jornalismo da PUC e ainda tinha metade do curso pela frente, mas uma experiência anterior no Diário de Notícias, entre março e agosto do mesmo ano, me dera jogo de cintura para enfrentar sem sobressaltos as pautas mais exigentes daquele que era, à época, o jornal preferido dos intelectuais e da elite carioca. Tirava de letra as mais variadas "coberturas": acompanhar casos famosos na Justiça, entrevistar autoridades, noticiar da praia lotada de domingo em Ipanema ao buracão da Light no dia mais quente do ano em Realengo. Eu caprichava no texto, mas sabia que não precisava me preocupar demais: estagiário não assinava matéria.

Ainda não completara dois meses na casa quando a subeditora do Caderno B, Marina Colasanti, adentrou o salão da Reportagem Geral pedindo socorro ao chefe, Armando Strozemberg: "Por favor, amigo, preciso de um repórter que fale bem o francês para entrevistar a viúva do pintor russo Kandinsky. Ela está de passagem pelo Rio, vinda de São Paulo, onde foi para a Bienal de Artes Plásticas. É russa, está bem velhinha, e fala um francês com forte sotaque". Quando Armando me indicou pra missão, quase tive uma síncope: o Caderno B era o suprassumo, o patamar mais alto do JB, o mais sofisticado caderno de arte e cultura do país, e eu nem sabia direito quem era Kandinsky!!!! Imagine entrevistar uma senhora de idade, com dificuldades de articulação, falando uma língua que não era a dela - muito menos a minha! - sobre um assunto que eu desconhecia! Pensei que fosse desmaiar, mas meu chefe nem se abalou: "Vai pra Pesquisa", disse ele, e obedeci.


Entrei ofegante no Departamento de Pesquisa e expus meu problema aos colegas. Em cinco minutos tinha diante de mim um farto material sobre Wassily Kandinsky (1866-1944), "pintor e teórico russo, um dos mais importantes pioneiros da arte abstrata", segundo o Dicionário Oxford de Arte. É bem verdade que não houve tempo para aprofundamentos no assunto: a entrevista com a viúva estava marcada para duas horas mais tarde, no Copacabana Palace, e tive pouco mais de 60 minutos para dar uma cheirada no tema e não fazer feio diante dela. Levei cópias xerox do material pesquisado, que fui lendo no banco de trás da velha camionete Rural Willis até a porta do hotel. Pela primeira vez, estava em pânico, completamente insegura, e agradeci a Deus quando me abriu a porta do quarto uma senhora de 80 anos, pequena, um pouco curvada, com problemas de visão: ela certamente não notaria o estado de nervos em que se encontrava sua entrevistadora.


A conversa durou mais de uma hora, com Dona Nina muito solícita, me oferecendo comidas e bebidas, mostrando fotos antigas e livros com reproduções de quadros belíssimos de Kandinsky, de quem falava como se já não se tivessem passado três décadas de sua morte. Ela estava feliz com a homenagem que a XI Bienal de São Paulo prestava ao marido, mas reclamou muito do tempo chuvoso no Rio, que há cinco dias atrapalhava seus planos de turista. Gostei muito dela, e depois daquele encontro comecei a me interessar seriamente por artes plásticas: desde então, passo a maior parte do tempo dentro de museus e galerias nas minhas viagens, compro todos os catálogos das exposições que visito, tenho uma bela coleção de livros de arte, sou apaixonada por pintura flamenga e tenho um carinho todo especial por Wassily Kandinsky, de quem vi obras maravilhosas no Centro George Pompidou, em Paris, e no Museu Guggenheim, de Nova York. Afinal, por causa dele, no dia 11 de outubro de 1973 eu tive a minha primeira matéria assinada no Jornal do Brasil.

A escritora Marina Colasanti, então à frente do Caderno B, gostou e decidiu assinar o texto da estagiária à beira de um ataque de nervos, que você pode ler logo abaixo.O artista morreu em 13 de dezembro de 1944 - há quase 65 anos - e sua doce viúva foi assassinada 10 anos depois dessa entrevista, aos 90 de idade, em sua villa na Suíça, por um criminoso covarde e até hoje impune. "

Nas cores de Nina
Christine Ajuz


- Kandinsky foi o primeiro a dar à pintura a verdadeira expressão livre - a mais difícil, porque o pintor precisa conhecer perfeitamente o desenho, ter senso de composição e, sobretudo, ser poeta.Tranquila, serena, sem saudosismos, Nina Kandinsky fala do marido, falecido em 1944, como se não o visse apenas há uma semana. Ela chegou ao Rio no domingo, vinda de São Paulo, onde compareceu à inauguração da XII Bienal de Artes Plásticas que, este ano, presta homenagem ao grande artista russo, precursor da arte abstrata, pela primeira vez em exposição na América do Sul.No apartamento do Copacabana Palace, ela reclama do mau tempo, da chuva que lhe atrapalha os passeios pela cidade que "sempre quis conhecer", e relembra, com carinho, sua vida ao lado de um homem que "até sua morte, com quase 80 anos, deu formas, cores e conteúdo novos à arte".


O ARTISTA

Nascido em Moscou em 1866, Wassily Kandinsky começou a ser notícia no início do século, mais precisamente em 1910 quando passou a representar o quadrado, o triângulo e o círculo em expressão abstrata.- Ele sempre dizia que não se pode fazer a teoria sem antes conhecer a prática, e todo o seu trabalho seguiu esta diretriz.Sua obra dividiu-se em sete fases, cada uma correspondendo a um estilo diferente. Primeiramente, o neo-impressionismo, de 1900 a 1906, e o expressionismo, até 1910, "quando fez sua primeira aquarela abstrata e, no ano seguinte, o primeiro quadro a óleo". Depois, até 1920, o que chamamos de época dramática do abstracionismo, sua fase de explosão, em que retratou cometas, nebulosas, vias-lácteas.- Até 1913, Kandinsky retratava a natureza, ao mesmo tempo em que mergulhava na poesia do abstracionismo. Um dia, ele me disse: "Quando você notar que não é mesmo um poeta, volte à natureza e ela lhe dará o tema". Ele nunca mais retornou à sua antiga temática.De 1920 a 1926, a época arquitetural, mais construída e elaborada; de 26 a 28, a época do círculo; de 28 a 33, a época romântica da arte abstrata, quando parte então para Paris e lá se estabelece até sua morte, em 1944. Para Nina, a época parisiense foi a mais rica "em expressão, forma, conteúdo e cores; a apoteose de sua obra". E conta que ele jamais usou o mesmo vermelho num quadro:- Kandinsky atingiu o mais alto refinamento de cores; ele as estudou durante dois anos, observando os efeitos de uma sobre a outra, e, por isso, sua técnica é impecável.Os 22 quadros a óleo que compõem a sala especial da Bienal de São Paulo, grande parte de sua propriedade, são de uma fase expressionista que já entra na arte abstrata. Essas obras ficarão também em exposição durante 10 dias, em data ainda não fixada, no Museu de Arte Moderna do Rio. Para a viúva do artista, "a homenagem brasileira prestada a Kandinsky, através da Bienal de São Paulo, se torna ainda mais importante pelo interesse que se vem demonstrando por sua obra no Brasil".

Razão e Intuição no JB

(Capa do suplemento dominical do JB)




Em 1959 , o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, embrião do que seria o Caderno B e sob a batuta de Reynaldo Jardim, publicou o manifesto neoconcretista,criado pela classe artística e intelectual do Rio de Janeiro,como pedra fundamental do movimento que reuniu personalidades como a artista plástica Lígia Clark ,Ferreira Gullar, Reinaldo Jardim, Theon Spanudis, Amílcar de Castro, Franz Weismann, e Lígia Pape.

O texto de Ferreira Gullar propunha uma ruptura com o movimento concretista capitaneado pelos paulistas, de cunho mais racional e influenciado pelo concretismo russo.Essa vanguarda estruturava sua criação na proposta de uma nova linguagem,racionalista ,influenciados pelos ares da modernidade que sopravam sobre a nova capital brasileira e acabaram por criar um novo recorte cultural .
Brasília nascia nos "50 anos em cinco" e Glauber Rocha o trazia o cinema novo enquanto a televisão providenciava um novo enquadramento ao olhar da sociedade.
Em 1956 o mesmo caderno já publicara a exposição concretista no Museu de Arte Moderna de São Paulo em apoio ao pensamento artistico de vanguarda.


(O manifesto)

Entretanto, para o grupo de criadores cariocas,não bastava a transformação da linguagem em novos padrões.Era preciso prescindir de qualquer regra e construir um olhar que retirasse o enquadramento do objeto de arte,transformando-o,como queriam os neoconcretistas,em não-objeto.Com essa afirmação propunha-se que o espectador criasse sua própria interpretação do objeto, manipulando-o em uso de seus proprios sentidos,seja na linguagem verbal,escrita,visual ou no contato com o elemento constituído fisicamente no espaço.
Esse novo conceito foi longamente explorado pelo suplemento ,em uma série de matérias que convidavam o leitor a construir sua própria percepção através da manipulação da criação artística,sem regras ou limitações com esquemas de montagem de estruturas e publicação de poesia neoconcreta.Estavam firmados então,os alicerces para a reforma gráfica que originou o caderno B,posicionando-o não somente como caderno feminino,proposta inicial do SDJB, mas como veiculo de divulgação das vanguardas artísticas da época.

Método de costurar pensamentos



Alberto Dines convidou Clarice para trabalhar no recém criado Caderno B em 1967. E lá ela permaneceu durante 6 anos, sendo cronista da página 2.

Clarice dizia que usava a técnica de "costurar para dentro". Esse método consistia em anotar frases durante todo o dia e em um segundo momento ela costurava essas idéias.

Realmente o recanto dos melhores

O caderno B, espelho do comportamento da época, lançou e acolheu nomes como Drummond, Clarice Lispector, Fernando Sabino, Henfil, Ziraldo, Marina Colasanti, Carlos Leonam e Zózimo Barroso do Amaral, entre outros, num jornal que ainda contava com colunistas do porte de Carlos Castello Branco, João Saldanha, Armando Nogueira e Alceu de Amoroso Lima. Imagina você, ao ler o B daquela época e se deparar com tais preciosidades da literaruta brasileira. Haaa...como queria ter esse gostinho!!

terça-feira, 26 de maio de 2009

Evandro Teixeira e o Caderno B

Além dos grandes nomes da literatura que o Caderno B teve como colaboradores, já citados anteriormente neste blog, como Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector, o B também contou e conta até hoje com um dos grandes nomes da fotografia mundial que é Evandro Teixeira.
Em 1963, ingressou no Jornal do Brasil cobrindo os principais episódios políticos, sociais e esportivos do país e eventos importantes do cenário mundial. Com fotos inesquecíveis principalmente da época da Ditadura Militar, Evandro realizou excelentes trabalhos para o Caderno B.
Na inusitada foto abaixo, vemos Vinícius de Moraes, Tom Jobim e Chico Buarque posando para o fotógrafo sob um ângulo diferente, a foto foi uma "brincadeira" que estampou a capa do Caderno B na comemoração dos 60 anos do Jornal do Brasil.

REVIVENDO PICASSO (03/04/1982) - mais uma do Zózimo

O comentário do Ministro Rubem Ludwig sobre o filme Pra Frente Brasil - "Eu me pergunto: será que isto ajuda na democracia que estamos fazendo com tanto empenho do Presidente?" - lembra muito um episódio ocorrido com Picasso.
Perdido, ao lado do pintor, na contemplação de sua mais famosa obra, Guernica, um nazista lhe perguntou:
- Foi você quem fez isto?
- Não, foram vocês.
***
Como Picasso, o diretor de Pra Frente Brasil, Roberto Faria, não fez nada que já não tivesse sido feito.

O jornalista Gilberto Cortes fala do B

"Trabalhei 25 anos no JB em três fases. Comecei em 1972, na Economia, até 1981, voltei em 82 como Editor de Economia e saí em 83. Retornei em 88 como Editorialista. Minha última passagem encerrou-se em 2001, como Colunista e editorialista.
No começo da carreira, fiz um estágio de uma semana no B, como parte do cursinho de Jornalismo do JB - que frequentei quando já estava na economia.
Quando o JB se mudou para a Avenida Brasil, numa primeira fase, as editorias - com exceção da Cidade e do Copy Desk, que eram abertas - ficavam confinadas em grandes salas. O Caderno B vinha logo depois da Geral e ficava ao lado da Economia, que tinha como vizinho do outro lado a Pesquisa.
Era um timaço: Rui Castro era redador/Subeditor; tinha os melhores críticos de cinema e música popular.
No Rio de Janeiro, dos anos 70 até meados dos anos 80, o Caderno B era referência geral - O Globo, não tinha credibilidade.
O JB lançava moda, expressões. Os grandes artistas iam falar e apresentar seus novos trabalhos no JB.
Os colunistas, então, eram fantásticos: Zózimo Barroso do Amaral (na crônica social), no auge do Rio, Carlinhos de Oliveira fazendo crônicas incríveis sobre a vida noturna, diurna, o desbunde, o olhar torto para a cidade; a crônica elegantérrima de Mestre Drumond. O que mais faltava? Ainda veio do B a Revista Domingo, com nova abordagem (isso em 1976).
Como 'vizinho', no JB admirava as meninas do B: Norma Curi, Maria Lúcia Rangel, Diana Aragão, Cleusa Maria, e tantas outras. Além da beleza natural, e de um belo texto, elas tinham o que mais faltava à Economia: espaço para escrever sobre temas alegres e convidativos."

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Suplemento dominical.

crédito: 21/03/1959 CPDoc JB

Primeira capa do B.

crédito: 15/09/1960 CPDoc JB

1994: É o fim do caminho ...


O compositor carioca Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim morreu aos 67 anos em Nova Iorque, onde se recuperava de uma cirurgia. No dia da sua morte, a cidade parou e foi decretado luto por três dias. Do Galeão até o Jardim Botânico, onde seu corpo foi velado ao som de Chega de Saudade, o cortejo que o acompanhou demorou quatro horas. E como não poderia deixar de ser, o B estampou uma foto do grande compositor em suas páginas.
Fonte: JB online

PREOCUPADÍSSIMO (02/07/1985) - por Zózimo Barrozo Do Amaral

O Governador Leonel Brizola até hoje não digeriu o coro ‘1,2,3,4,5, mil...’ com que foi brindado pelas 140 mil pessoas que encheram o Maracanã semana passada no jogo Brasil x Paraguai.
Refratário a críticas e observações contrárias a seu Governo, mesmo que partam de amigos íntimos e com intenção de colaborar, Brizola está pela primeira vez preocupadíssimo.
Até porque, pela primeira vez não dá para minimizar, como o Governador gosta de fazer, uma manifestação uníssona de 140 mil vozes.
Se Brizola não consegue mais ser popular sequer na arquibancada do Maracanã das duas, uma: ou endireita tudo o que está errado ou joga a toalha.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Caderno B - 07/01/1975

crédito: 07/01/1975 CPDoc JB.

Caderno B - 02/01/1980

crédito: 02/01/1980 CPDoc JB

Morte de John Lennon.

crédito: 10/12/1980 CPDoc JB

Caderno B - 13/02/1984

crédito: 13/02/1984 CPDoc JB

Capa do Caderno B - 05/01/1985

crédito: 05/01/1985 CPDoc JB
www.cpdocjb.com.br

1966 - O Festival Internacional da Canção


O Caderno B não poderia deixar de fora esta grande manifestação cultural que havia em nosso país, que eram os Festivais de Música.

A nova cara do Caderno B - dezembro de 2008


QUANDO CHORAR, por Clarice Lispector

Há um tipo de choro bom e há outro ruim. O ruim é aquele em que as lágrimas correm sem parar e, no entanto, não dão alívio. Só esgotam e exaurem. Uma amiga perguntou-me, então, se não seria esse choro como o de uma criança com a angústia da fome. Era. Quando se está perto desse tipo de choro, é melhor procurar conter-se: não vai adiantar. É melhor tentar fazer-se de forte, e enfrentar. É difícil, mas ainda menos do que ir-se tornando exangue a ponto de empalidecer.
Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda.
Homem chorar comove. Ele, o lutador, reconheceu sua luta às vezes inútil. Respeito muito o homem que chora. Eu já vi homem chorar.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Reforma dos jornais cariocas no século XX

A consolidação das tranformações no JB se dá com a entrada de Alberto Dines, em 1962, que sitematiza as mudanças anteriores e introduz inovações importantes para a fotografia. Nesse mesmo ano, o JB ganha o seu primeiro Prêmio Esso, o de fotografia, o segundo atribuído à categoria e o primeiro relativo à fotografia concedido a um jornal diário, com a foto de Erno Schneider onde o presidente Jânio Quadros aparece de costas, com as pernas trocadas e o título "Qual o Rumo?". Além de agregar prestígio, o prêmio é mais um incentivo aos fotógrafos e o reconhecimento da importância da fotografia para o jornal.

1977 - O mundo órfão de Charles Chaplin


O pensamento de Charles Spencer Chaplin foi o sentimento compartilhado entre seus fãs e admiradores ao tomarem conhecimento de seu falecimento, na noite de Natal, aos 88 anos. E o Caderno B fez uma matéria especial sobre este grande artista.

Fonte: JB online

segunda-feira, 18 de maio de 2009

INFIDELIDADE, por Zózimo Barrozo Do Amaral (15/04/1983)

Reflexão de uma senhora casada sobre a infidelidade conjugal:
- Antes à tarde do que nunca.

domingo, 17 de maio de 2009

Os longos anos de Evandro Teixeira no JB

Em 1963, ingressou no JORNAL DO BRASIL, onde está até hoje, cobrindo os principais episódios políticos, sociais e esportivos do país e eventos mercantes do cenário mundial. Golpe militar no Brasil, golpe no Chile, Jogos Olímpicos, Copas do Mundo. Visitas de reis e rainhas, viagens presidenciais, peregrinações de papas. Desfiles de moda em Paris, violência policial, seca no Nordeste.Publicou muitas destas no caderno B.

Suplemento do Jornal do brasil

Em 03 de junho de 1956, o JB lançava o seu Suplemento Dominical. Entre os assuntos abordados, cultura, literatura, dramaturgia, e um espaço dedicado à mulher, focado em moda e beleza. Era uma proposta para a diversificação editorial e mais integração com a família brasileira.

1980 - Morre o precursor da "aldeia global"


O teórico da comunicação social Herbert Marshall McLuhan foi encontrado morto, aos 69 anos, pelo filho Eric, em sua residência em Toronto, no Canadá. Uma das principais influências intelectuais dos anos 60, revolucionou os padrões de ensino das escolas de Comunicação dos Estados Unidos e Europa com conceitos em que definia uma nova ordem social e política a partir da comunicação simultânea e instantânea entre os habitantes de todos os pontos da Terra: a aldeia global. E o Caderno B fez uma matéria especial sobre McLuhan após sua morte!
Fonte: JB online

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Homem livre de Drummond

Atanásio nasceu com seis dedos em cada mão.Cortaram-lhe os excedentes.Cortassem mais dois, seria o mesmo admirável oficial de sapateiro, exímio seleiro.Lombilho que ele faz, quem mais faria?Tem prática de animais, grande ferreiro.Sendo tanta coisa, nasce escravo,o que não é bom para Atanásio nem para ninguém.Então foge do Rio Doce.Vai parar, homem livre, no Seminário de Diamantina,onde é cozinheiro, ótimo sempre, esse Atanásio.Meu parente Manuel Chassim não se conforma.Bota anúncio no Jequitinhonha, explicadinho:Duzentos mil-réis a quem prender crioulo Atanásio.Mas quem vai prender homem de tantas qualidades?
Aqui, o que se destaca não é exatamente o poeta, mas o cronista que se expressa em versos. Boa parte dos poemas dessa fase, antes de aparecer em livro, foi publicada como crônica na coluna de C.D.A. no Jornal do Brasil.

O poeta pendura as chuteiras!

Em 1984, às vésperas de completar 82 anos, o poeta decide pendurar as chuteiras no ofício da crônica, depois de mais de seis décadas de jornalismo. Em carta ao presidente do Jornal do Brasil, o cronista afirma: "Sinto que é hora de descansar e também de ceder espaço a outros que começam ou que estão em fase de desenvolvimento de carreira". M. F. Nascimento Brito, o presidente, respondeu à carta fazendo uma contraproposta: em vez de escrever três crônicas por semana, Drummond escreveria somente uma. O poeta agradece e reafirma sua intenção de não ter "compromisso profissional com periodicidade certa" De fato, depois de deixar o JB, o poeta, que morreria três anos depois, ainda publicou cinco livros e deixou outros cinco prontos para o prelo.

Drummond e seu inconformismo!


Foto publicada no site alguma poesia


Em 1982, às vésperas dos 80 anos, o poeta expressa sua inconformidade com a destruição do Salto de Sete Quedas, um patrimônio natural do Brasil e da humanidade. Na edição de 9 de setembro, quando afinal se anunciava o fechamento das comportas para a criação do lago da hidrelétrica de Itaipu, Drummond publicou este poema no Jornal do Brasil. Em letras grandes, os versos ocuparam uma página inteira, a capa do Caderno B. O sentimento ecológico do poeta reverberou em todo o país. Um mês depois, ele voltaria à carga, com a crônica "Sete Quedas poderia ser salva" (JB, 07/10/1982). Nesse texto, Drummond transcreve una carta do engenheiro Octavio Marcondes Ferraz — o projetista da hidrelétrica de Paulo Afonso. A carta fora enviada ao poeta exatamente a propósito do poema "Adeus a Sete Quedas". Ferraz revela que em 1963 apresentara projeto intitulado "Aproveitamento do Potencial do Salto de Sete Quedas". A idéia do engenheiro era preservacionista. "Em Paulo Afonso", diz ele, "projetei a usina preservando a catarata que Deus nos deu." "Aproveitamento, em vez de imolação", destaca Drummond. O argumento do governo militar para a destruição é que seria necessário considerar uma "solução simétrica" em relação ao Paraguai. No final, diz Drummond, os paraguaios não ficaram tão satisfeitos e Sete Quedas vai passar às novas gerações apenas como uma pálida notícia, um cartão postal de longínquo passado. "Sete quedas por nós passaram,/ e não soubemos, ah, não soubemos amá-las".

Zuenir no JB!

Em meados da década de 80, foi convidado a reformular a revista Domingo, do Jornal do Brasil. Em 1989, publicou no Jornal do Brasil a série de reportagens O Acre de Chico Mendes, pela qual recebeu o Prêmio Esso e o Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo, e que posteriormente se tornou o livro Chico Mendes, Crime e Castigo.

Chico Buarque de Holanda, por Clarice Lispector (4/2/1968)

Entrei num restaurante com uma amiga e logo deparei com Carlinhos de Oliveira, o que me deu alegria. Olhei depois em torno. E quem é que eu vejo? Chico Buarque de Holanda. Eu disse para Carlinhos: quando meus filhos souberem que eu o vi, vão me respeitar mais. Então Carlinhos, que se sentara na nossa mesa, gritou: Chico! Ele veio, fui apresentada. Para a minha surpresa, ele disse: e eu que estive lendo você ontem!
Chico é lindo e é tímido, e é triste. Ah, como eu gostaria de dizer-lhe alguma coisa - o quê? - que diminuísse a sua tristeza.
Contei a meus dois filhos com quem eu estivera. E eles, se não me respeitam mais, ficaram boquiabertos.
Então eu tive uma idéia e não sei se ela irá adiante; se for, contarei a vocês. Era chamar Chico e Carlinhos para me visitar em casa. Eu os verei de novo, e sobretudo meus filhos os verão. Falei dessa idéia e um de meus filhos disse que não queria. Perguntei por quê. Respondeu: porque ele é uma personalidade. Eu lhe disse: mas você também é, aos sete anos de idade ouvia tudo de Beethoven que tínhamos e pedia mais, tanto gostava e sentia e entendia.
Mas quero respeitar meu filho. Disse-lhe: se eu convidar Chico, se ele vier, você só aperta a mão dele e, se quiser, sai da sala.
Também achei Carlinhos triste. Perguntei: por que estamos tão tristes? Respondeu: é assim mesmo.
É assim mesmo.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Uma expressão social.


"A música de carnaval, como toda a criação artística, reflete a condição e a psicologia pessoal do autor, mas expressa também o tipo de sociedade a que pertence, uma voz que esta se torna, em última análise, a responsável pelo condicionamento da sua inspiração, ao fornecer os motivos para a composição. (...)"
Tinhorão, José Ramos. "Música de Carnaval (I)", Jornal do Brasil - 2º Caderno, 05/02/1960. Rio de Janeiro - RJ.

José Ramos Tinhorão

Jornal do Brasil, Caderno B, p. 5 - 13/06/1977

"...a música sertaneja compõe 40% da produção total de música popular no Brasil. (...) Feita para atender ao gosto de populações rurais da periferia das cidades, e ainda a camadas da própria área urbana ainda não integradas no novo universo cultural a que foram atraídas, a música sertaneja passa a incorporar, num dado momento, os confusos e desajeitados impulsos de ascensão social do seu publico. E, assim, num processo em tudo paralelo ao que se verifica ao nível da classe média urbana, quando adota instrumental eletrônico e estilos estrangeiros para 'atualização' e 'desenvolvimento', artistas e público de origem rural rejeitam seus ritmos e características locais (que lhe lembram o estágio de pobreza e subdesenvolvimento de que desejam sair) e partem para a salada de estilos que representa exatamente o seu momento de choque cultural-social".

Para vencer, MPB terá que aprender inglês.


José Ramos Tinhorão (Jornal do Brasil, 16 de novembro de 1976): "estamos sofrendo uma colonização cultural através dos meios de comunicação".

José Ramos Tinhorão


Amado e odiado na mesma intensidade, o crítico musical ganhou fama, principalmente, por atacar “quase unanimidades” do cenário brasileiro, como Tom Jobim e Chico Buarque e ser implacável com a bossa nova. Chegou mesmo a escrever que “Águas de Março”, de Jobim, não passaria de mero plágio. Mesmo despertando sentimentos apaixonados, Tinhorão, certamente, é um dos grandes nomes da crítica musical brasileira.

No ano de 1959, entrou no “Jornal do Brasil”, onde atuou como redator e colaborador dos “Cadernos de Estudos Brasileiros” e “Caderno B”. Ao assumir uma coluna controversa no jornal, entre os anos de 1975 a 1980, comprou briga com grandes nomes da MPB, chamando, por exemplo, de “boi com abóbora” um samba de Chico Buarque ou batendo boca com Paulinho da Viola.

Seu primeiro livro sobre a história da música popular brasileira foi escrito em 1966, “Música Popular: um tema em debate”. Ao todo, sua obra já chega a mais de 20 publicações. Durante sua vida, reuniu cerca de 6,5 mil discos de 76 e 78 rpm, que foram gravados e lançados comercialmente entre os anos de 1902 e 1964, e 6 mil LPs (long-plays ou discos de 33 rpm), com datas de lançamento entre 1960 e meados da década de 1990.
O seu acervo musical foi comprado pelo Institudo Moreira Salles e está disponível na internet. Tinhorão chegou a pensar em vender o seu material na rua, pois não encontrava compradores que se interessavam.

50 anos do Manifesto Neocroncreto.

Caderno Idéias do JB comemora 50 anos do Manifesto Neoconcreto

Reynaldo Jardim um dos responsáveis pela reforma do JB.



Reynaldo Jardim participou, nos anos 50, da Reforma do Jornal do Brasil - onde criou e editou o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, o Caderno de Domingo e o Caderno B. Ainda no mesmo grupo, dirigiu a Radio Jornal do Brasil.
O Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, o SDJB, passou de páginas de receitas de bolo ao mais importante suplemento literário de poesia concreta do Brasil, por onde passaram crí­ticos e escritores de grande nome, como Oliveira Bastos, Mário Faustino, entre outros.
Ao se demitir do JB (devido à repressão militar), em 1964, Reynaldo Jardim continuou a exercer atividades de grande destaque na imprensa do Rio de Janeiro: foi diretor da revista Senhor e diretor de telejornalismo da recém-inaugurada TV Globo.Reynaldo possui dez livros de poesia publicados, entre eles Joana em Flor e Maria Bethânia, Guerreira, Guerrilha. Seu mais recente livro A Lagartixa Escorregante na Parede de Domingo. Como poeta compulsivo, Reynaldo Jardim manteve a única coluna diária de poesia em jornal, no Caderno B do Jornal do Brasil de 2004 a 2006, quando a coluna passou a semanal. Em 1968 havia tido a mesma experiência, de um poema por dia, no Jornal de Vanguarda, exibido pela TV Rio quando, ao vivo, comentava em versos o acontecimento mais importante do dia.

Fausto Wolff


Fausto Wolff, escritor e colunista do Jornal do Brasil.

Fausto Wolff - 08 de Julho de 1940 + 05 de Setembro de 2008.

Nascido em 1940, em Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, Faustin von Wolffenbüttel teve infância pobre. Começou a trabalhar aos 14 anos como repórter policial e contínuo do jornal Diário de Porto Alegre.
De família humilde, mudou-se para o Rio aos 18. Tornou-se jornalista em 1954 e passou por momentos históricos no jornalismo, fazendo parte da turma que editou o primeiro O Pasquim, a partir de 1969.
Também esteve por trás da volta do jornal O Pasquim 21, no começo da década. Além do jornal, também atuou como diretor de teatro e cinema e professor de literatura nas universidades de Copenhague e Nápoles.
Escreveu vários livros, entre romances, livros históricos e compilações de crônicas, entre eles Cem poemas de amor e uma canção despreocupada, A imprensa livre de Fausto Wolff, O acrobata pede desculpas e cai e seu último livro, A milésima segunda noite, lançado em 2005 pela editora Bertrand Brasil.
- Seus livros evocam uma certa fantasmagoria de ordem interna típica de Edgar Allan Poe: o horror que vem de dentro do ser, pasmo ante um mundo calcado em conceitos de realidade que não admite - declarou o escritor Fernando Toledo sobre sua obra.
Entre livros e traduções

Também se responsabilizou por traduções de livros, como Detonando a notícia: Como a mídia corrói a democracia americana, de James Fallows. Foi agraciado com o Prêmio Jabuti com o romance À mão esquerda.
Em áreas mais leves, também editou volumes das célebres Anedotas do Pasquim, lançadas pela editora do jornal, Codecri.
Ultimamente, mantinha o site O Lobo (http://www.olobo.net), com compilações de seus textos, e fazia uma coluna diária no Caderno B, para o qual veio trazido pelo chargista e escritor Ziraldo, a quem conheceu ainda na época do Pasquim. Lá, lançava mão de personagens como Natanael Jebão, que popularizou. Diariamente, criticava a mídia e novidades como o celular e o computador.
– Vai chegando a hora em que a turma vai indo embora – lamenta Ziraldo.
- Brigamos muito, nos amamos muito, vivemos muito juntos, muito separados. É como um irmão desgarrado que morre. Ao lado de Dalton Trevisan e Rubem Fonseca, Fausto era um dos melhores contistas do Brasil. Era também um excelente romancista. Era um gênio como autor de contos. Escreveu primorosamente como jornalista.

Chico Caruso sobre Fausto Wolff
Era muito bom escritor, as crônicas dele no Jornal do Brasil eram ótimas, inteligentes e atuais. Era da geração do Pasquim, de um Rio de Janeiro que passou por revoluções no jornalismo.

2004: Chico Buarque faz 60 anos


O Caderno B não poderia ficar de fora e fez uma capa especial em comemoração ao aniversário de 60 anos do grande Chico Buarque.
Fonte: JB online

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Príncipe Charles e Princesa Diana


O Caderno B não deixou de publicar o maior acontecimento do ano de 1981: o casamento do Prícipe Charles e da Princesa Diana. E ainda fez graça. Olha só a capa!

Palavras de Alberto Dines insuflam a força do B

MATÉRIA PUBLICADA NO SITE DO OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA COM O DEPOIMENTO DO JORNALISTA ALBERTO DINES SOBRE A IMPORTÂNCIA DO SUPLEMENTO CULTURAL DO JORNAL DO BRASIL

'09/12/2008 - Observatório da Imprensa

LADO B DO JORNALISMO - Eles não gostam dos cadernos culturais
(Alberto Dines)

O "Caderno B" do Jornal do Brasil - inventado por Reynaldo Jardim em meados dos anos 1950 - foi uma síntese do que hoje se chama "jornalismo cultural". Começou reunindo as magníficas sobras do dia anterior e aos poucos transformou-se num caderno de cultura.
Não era um suplemento literário, ensaístico, como os do Estado de S. Paulo, do Correio da Manhã e Diário de Notícias, montados em cima de rodapés assinados pelos "nomões" da crítica literária na boa tradição do feuilleton europeu. O "B" era uma pausa para o jornalismo de qualidade, grandes fotos, textos esmerados completos, grandes entrevistas, resenhas estimulantes, pausa para o prazer de ler e o dever de pensar.
O lado B do jornalismo é o seu lado verdadeiro, garantidor da sua sobrevivência ao longo de quatro séculos. Jornalismo cultural, cadernos de cultura e histórias bem contadas fazem parte do mesmo núcleo de resistência à homogeneização e à descartabilidade. Este jornalismo cultural está sendo sitiado e lentamente esvaziado pelo comercialismo dos releases das editoras e produtoras, pelas lantejoulas do show-biz, pelas diferentes formas de charlatanice modernista e demais sub-subprodutos da sub-subindústria cultural.'

É necessário ressaltar que com uma equipe de jovens colaboradores (entre eles Jânio de Freitas, Carlos Lemos e Wilson Figueiredo), Odylo Costa Filho, no cargo de editor chefe do JB, introduziu, a partir de 1956, profundas modificações gráfico-editoriais no diário. O jornal, já estruturado como empresa, havia adquirido novos equipamentos gráficos necessários para sua modernização.
A reforma gráfica do JB ficou a cargo do escultor mineiro Amílcar de Castro, que inspirado no concretismo romperia "a espinha-dorsal que dividia a antiga diagramação em duas metades simétricas" (Gaudêncio Junior, 2005: 2). Abusando do branco do papel, ele abria maior espaço entre as colunas, eliminando os fios que antes as dividiam e criando contrastes entre os elementos verticais e horizontais para orientar o leitor por uma página mais funcional e atraente. As mudanças dão cara nova ao jornal, que deixa para trás o perfil de "jornal praticamente sem notícias, encostado nos anúncios classificados e vivendo em função destes, [... e] com material gráfico arcaico, com fios grossos, tipos que borravam e uma impressora envelhecida" (Figueiredo apud Gaudêncio Junior, 2005: 4).
Para Gaudêncio Junior (2005: 2), o arrojo gráfico acentuava a "ousadia intelectual" do jornal. Segundo Alberto Dines, que viria a ser, mais tarde, editor-chefe do jornal, o novo modelo gráfico e editorial do JB seria, nos próximos 30 anos, "copiado do Oiapoque ao Chuí" (Alves de Abreu; Lattman-Weltmann e Rocha, 2003: 87).
Em 1956, o JB já tinha lançado o inovador Suplemento Dominical que "trazia um pouco de tudo: artes plásticas, teatro, cinema, ciências, ensaios literários e poesia" (Jornal do Brasil, 2000). O poeta Ferreira Gullar – que participou do início do projeto com o poeta Mário Faustino – lembra que o suplemento causou muito impacto na época, influenciando e lançando artistas jovens, principalmente ligadas ao movimento neoconcreto. Segundo ele, o suplemento apresentava "uma filosofia, uma visão", lançando idéias e movimentos (2007: 1). O suplemento serviria de embrião para o Caderno B, lançado em 1960, oferecendo cobertura de eventos culturais ao leitor e textos criativos de escritores como Clarice Lispector, Carlinhos de Oliveira e Ferreira Gullar, que contribuíam regularmente para o jornal. Outra seção do jornal, a página de Esportes, funcionava como "um verdadeiro laboratório de experimentos dentro do jornal" (Alves de Abreu; Lattman-Weltmann e Rocha, 2003: 71).
É dentro deste contexto de modernização que Alberto Dines assume a direção do jornal, em janeiro de 1962. Consolidando as reformas iniciadas por Odylo, Dines introduziu várias inovações à produção do JB: relacionadas à sistematização de rotinas e práticas de produção de notícias. O jornal passou a ser planejado mais cedo – logo de manhã – o que mostra a preocupação de tentar impor uma estrutura sobre o tempo que lhe permitisse levar a cabo o seu trabalho diário.

Boitempo de Drummond


CUNHA, Fausto. “Boitempo”: o que Drummond não diz. Jornal do Brasil, [Rio de Janeiro], 01 fev. 1969. Caderno B.

O texto foi encontrado no site da UFMG, na página entitulada de Cyro dos Anjos.


A obra Boitempo, de Carlos Drummond de Andrade foi publicada em três volumes nos anos de 1968, 1973 e 1979. É considerada como um testemunho biográfico do poeta.

Maria Lúcia Rangel


Caderno B, década de 70, Maria Lúcia Rangel à direita
Foto publicada no site de Lucia Guimarães

A jornalista Maria Lúcia Rangel, cujo caderno de telefones, escrito em caligrafia impecável, é um tesouro e testemunha a riqueza de sua experiência profissional, foi integrante de uma das melhores equipes de repórteres culturais - a redação do Caderno B do Jornal do Brasil. No auge da censura, na década de 70, a cobertura exigia não só imaginação mas envolvia risco. “Nós tinhamos um caderno preto, imposto pelos censores, com nomes que não podiam ser citados,” conta Maria Lúcia. Um deles, era o Chico Buarque - tanto que entrevistei Julinho da Adelaide, nome que ele inventou para poder falar de sua obra na imprensa.”
Quando fez uma reportagem sobre famílias de desaparecidos políticos, o nome de Maria Lúcia foi omitido por recomendação do editor, que temia represálias contra a repórter. “Nós eramos jovens, indignados e estimulados pelo grande número de leitores que o jornal tinha na época,” lembra. “Mas o principal é que os editores, como o Humberto Vasconcellos, nos davam toda liberdade para escrever.”

A casa dos grades

Nessa matéria percebemos que o caderno B foi a casa dos grandes literários vanguardas, na época de ápice do suprimento. Personalidades brilhantes como Tárik de Souza, Fernando Sabino,
Ancelmo Góis passaram pelas redações do B. Vale a pena conferir!

Matéria publicada pelo JL Méier na edição especial sobre o Jornal doBrasil em junho de 2005. Essa edição especial foi elaborada pelos alunos do TCC ( Trabalho de Conclusão de Curso) da FACHA Méier.

http://www.facha.edu.br/publicacoes/08_jl_meier.asp

Em 2008, Bzão completou dois anos no Caderno B do JB

No ano de 2008, o Bzão completou dois anos no Caderno B do JB.
Conhecido como topetudo e usando sempre uma camisa preta com a letra B. Tem uma banda de rock, uma gata branca, uma namorada e leva um estilo de vida alternativo. "Os outros personagens que se relacionam com ele também: sua namorada Bzuda, o primo Bzinho e o amigo Gogó".O personagem foi criado por ocasião do Dia Mundial do Rock, comemorado sempre em 13 de julho. Até agosto de 2007, as tiras do Bzão saíam uma vez por semana na BdeBanda. O editor decidiu acabar com a coluna e promoveu o roqueiro para a seção Tiras, ao lado de Ota, Ciça e André Dahmer, publicado de segunda a sexta. Além do jornal impresso, as tiras do Bzão são divulgadas pela internet (www.fotolog.com/jornaldorock) e através de exposições em shows de rock.

1977: É aprovada a Lei do Divórcio

Após a derrota em duas etapas em maio de 1975, tendo como principais opositores a igreja e a classe conservadora, Nélson Carneiro consegue aprovar seu projeto de divórcio no Congresso Nacional. E o Caderno B fez uma matéria especial sobre o assunto:

Gírias consolidadas pela imprensa

O colunista Zózimo Barroso do Amaral registrou inúmeras palavras e expressões de gírias na célebre coluna social que fazia para o Jornal do Brasil, muitas das quais foram depois incorporadas à língua. No dia catorze de fevereiro de 1970, comentando a forma cautelosa com que famoso músico reentrara na atmosfera brasileira, depois de uma temporada no exterior, Zózimo escreveu no Caderno B: ''Durante o carnaval, na moita, chegou da Europa o Wilson Simonal''. ''Na moita'' é resquício de um tempo em que alguém podia ocultar-se no capim que grassava, primeiramente no campo, e depois também nas cidades.

Por complicada redução de palavra bem brasileira, combinada com insólita influência do inglês, ''niver'' passou a designar festa de aniversário. Nos finais dos anos sessenta, encontramos registro na imprensa que aludia à festa que um marido dera aos amigos ''para festejar o niver de sua bonita e louríssima esposa''.

Tão logo o dinheiro deixou de ser apenas moeda de metal e passou a ser impresso em papel, surgiram os qualificativos para nota: ''nota alta'', ''nota graúda'', ''nota violenta'', ''nota viva'', ''nota preta''.

Ainda não estava oficializada a existência do novo tipo que oferecia prestação de serviços sexuais extraordinários, a conhecida garota-de-programa, mas a imprensa já registrava, no alvorecer de 1970, que ''sair com ela custa uma nota alta''. Primeiramente, na ''garçonnière'', palavra francesa que designava o apartamento para este fim. E mais tarde, no motel, do inglês ''motel'', que designou originalmente hotel de beira de estrada, freqüentado preferencialmente por viajantes e com garagem para cada apartamento.

Os novos costumes retiraram os eufemismos e o motel substituiu a ''garçonnière'' em escala industrial.

terça-feira, 12 de maio de 2009

1984: "Memórias do Cárcere" estreia nos cinemas do Rio



Baseado do romance homônimo de Graciliano Ramos, o filme "Memórias do Cárcere" marca o reencontro do público com o cinema brasileiro. E o Caderno B faz matéria sobre a estreia do filme no dia 18/06/84.



segunda-feira, 11 de maio de 2009

Clarice sempre dava show


A SURPRESA (19/08/1967)

Olhar-se ao espelho e dizer-se deslumbrada: Como sou misteriosa. Sou tão delicada e forte. E a curva dos lábios manteve a inocência.
Não há homem ou mulher que por acaso não se tenha olhado ao espelho e se surpreendido consigo próprio. Por uma fração de segundo a gente se vê como a um objeto a ser olhado. A isto se chamaria talvez de narcisismo, mas eu chamaria de: alegria de ser. Alegria de encontrar na figura exterior os ecos da figura interna: ah, então é verdade que eu não me imaginei, eu existo.

Como tudo começou...

O "Caderno B" do Jornal do Brasil – inventado por Reynaldo Jardim em meados dos anos 1950 – foi uma síntese do que hoje se chama "jornalismo cultural". Começou reunindo as magníficas sobras do dia anterior e aos poucos transformou-se num caderno de cultura.
Não era um suplemento literário, ensaístico, como os do Estado de S. Paulo, do Correio da Manhã e Diário de Notícias, montados em cima de rodapés assinados pelos "nomões" da crítica literária na boa tradição do feuilleton europeu. O "B" era uma pausa para o jornalismo de qualidade, grandes fotos, textos esmerados completos, grandes entrevistas, resenhas estimulantes, pausa para o prazer de ler e o dever de pensar.

Alberto Dines e sua coragem!

Alberto Dines esteve por 12 anos à frente da Redação do JB, tendo assumido pela primeira vez o cargo de editor em janeiro de 1962. Numa época de ditadura militar e censura aos órgãos de comunicação, Dines comandava o jornal em pelo menos dois momentos históricos: em dezembro de 1968, após a decretação do AI-5, mandou para as bancas uma edição marcada por ironias e linguagens figuradas; e, em 1973, driblou os censores mais uma vez, noticiando de forma original o golpe militar no Chile.
A morte de Salvador Allende (12/09/1973)Uma das mais importantes páginas do jornalismo nacional foi escrita em 12 de setembro de 1973, quando Alberto Dines chefiava a redação do JORNAL DO BRASIL. Na véspera, em Santiago, no Chile, eclodia o golpe contra o governo do presidente Salvador Allende, que foi achado morto num dos gabinetes do Palácio de La Moneda - e a partir daí a ditadura de Augusto Pinochet se instalaria de vez no país. Os censores brasileiros, que na época exerciam seu controle nas redações dos jornais através de bilhetinhos ou telefonemas, haviam determinado ao JB que a notícia da morte de Allende não tivesse nenhum destaque na primeira página. Nada de títulos garrafais, muito menos fotos abertas em várias colunas. Pois bem. Uma solução teria que ser encontrada, o jornal tinha que driblar de algum jeito a imposição da censura. Fez-se então uma primeira página sem manchete alguma, sem uma fotografia sequer, só com texto - as letras, de corpo 24, eram as maiores que os equipamentos da época permitiam. Ou seja: além do tradicional L de anúncios classificados, a morte do presidente chileno era o único assunto da primeira página do jornal. O impacto foi grande, muito maior do que qualquer título ou chamada teria. Uma edição que já foi descrita como uma das mais subversivas da história do jornal. Nas linhas finais do texto era descrito o trabalho do enviado especial do JB a Santiago, Humberto Vasconcelos, "que assistiu aos últimos momentos do governo Allende e destacou que os esquerdistas foram tomados de surpresa com a ação militar, que pôs fim a 41 anos de normalidade constitucional no Chile."

sábado, 9 de maio de 2009

1980 - Cartola, um vazio se fez no samba



Para homenagear Cartola, Carlos Drummond de Andrade escreveu, no Caderno B, a crônica "No moinho do mundo": a história do homem simples que encantou por seu jeito de lidar com as situações da vida. Cartola leu a homenagem no hospital e pediu que fixassem o jornal na parede de seu leito. A crônica foi publicada três dias antes de sua morte.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sempre o Zózimo

As tiradas do Zózimo são demais, sempre irreverente, ele lançou essa em 1987:
QUEM CHEGA (9/3/1987) - Zózimo Barrozo Do Amaral

"Amanheceu ontem no aeroporto internacional do Rio, chegando de Nova Iorque, o comediante Jô Soares.
"Chamava grande atenção no salão da alfândega pelo porte - o próprio e o de sua bagagem."

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Curiosidades do B

O Caderno B do Jornal do Brasil, surgido no início da década de 60, foi o primeiro suplemento de cultura brasileiro. O informativo cultural possuía tanto prestígio a ponto de popularizar o uso de estrelinhas para a cotação de lançamentos ― filmes, peças de teatro e discos ―, e lançar modismos, tais quais os termos “mauricinho” e “patricinha” para se referir à juventude rica.
Na década de 70, o caderno tentava burlar a censura imposta pela Ditadura Militar, publicando notícias de personalidades vetadas, através da utilização de pseudônimos, como conta a jornalista Maria Lúcia Rangel: “Nós tínhamos um caderno preto, imposto pelos censores, com nomes que não podiam ser citados. Um deles era o Chico Buarque - tanto que entrevistei Julinho da Adelaide, nome que ele inventou para poder falar de sua obra na imprensa”.

Homem de Idéias

Artigo publicado originalmente por Alvaro Costa e Silva e Paulo Celso Pereira em 31/12/2004.
Publicado no Caderno B do Jornal do Brasil, 26 de dezembro de 2004.
"Ferreira Gullar é o Homem de Idéias de 2004. Aos 74 anos, o poeta foi lembrado pela relevância e extensão de sua obra e por sua posição política. Aos 74 anos, o maranhense Ferreira Gullar - um dos mais importantes poetas brasileiros, além de crítico de arte combativo, dramaturgo e jornalista - é o Homem de Idéias 2004. Em eleição de que participaram alguns dos escolhidos de anos anteriores - como o crítico literário Antonio Candido, o arquiteto Oscar Niemeyer, o cientista social Luís Eduardo Soares, o filósofo Leandro Konder, o sociólogo Francisco de Oliveira, o historiador José Murilo de Carvalho e o escritor Luiz Fernando Verissimo -, Gullar recebeu a maioria dos votos, superando o economista Carlos Lessa, o escritor Ruy Castro e a professora Alba Zaluar.
- A poesia é uma invenção, e, por isso, às vezes um poeta é mais ouvido. Pois o que ele escreve corresponde de uma maneira mais ampla ao sentimento das pessoas - afirma ele na entrevista da página B3 desta edição especial do Caderno B - Idéias & Livros.
Oscar Niemeyer, um velho amigo e militante dos tempos do Partidão (como era conhecido o Partido Comunista Brasileiro), abriu a campanha em favor de Gullar com poucas palavras. Mas palavras de ordem: - Ele é um sujeito correto, um homem de esquerda, um grande poeta e um bom camarada. Ao longo de 2004, a editora José Olympio deu início ao projeto de relançar toda a obra de Gullar (revista pelo autor e com esmerado projeto gráfico), publicando uma nova edição de Na vertigem do dia e outra de A luta corporal, em comemoração aos 50 anos do livro. E a Global mandou para as livrarias a 7ª edição da antologia Melhores poemas de Ferreira Gullar, organizada pelo crítico literário Alfredo Bosi. É com base nessas reedições que Leandro Konder justificou seu voto: - Os poemas dele foram reunidos e tornados acessíveis. E tiveram um eco surpreendente, sobretudo na nova geração, que reagiu bem aos poemas. Completando a ala dos votantes em Gullar, Antônio Cândido o escolheu por ser ''um poeta muito significativo'' e José Murilo de Carvalho ressaltou a importância de sua obra poética na moderna literatura brasileira e de seu trabalho como crítico de arte. Nascido em 10 de setembro de 1930, em São Luís, no Maranhão, José Ribamar Ferreira (Gullar é o aproveitamento do nome francês, Goulart, de sua mãe) pensou, primeiro, em ser jogador de futebol, até que um sarrafo de um adversário o demoveu da idéia. Aos 13 anos, na escola técnica onde aprendeu a plainar e polir madeira, decidiu ser escritor, depois de receber elogios de uma professora por conta de uma redação sobre o Dia do Trabalho. Manteve-se, assim, a tradição do Maranhão em gerar filhos que sabem como poucos manejar a língua. Gullar faz sempre questão de lembrar que a primeira gramática da língua portuguesa editada no Brasil foi escrita por um maranhense. Foi também um maranhense, Odorico Mendes, quem primeiro traduziu os clássicos poetas latinos Horácio e Virgílio. Por essas e outras, desenvolveu-se no Maranhão uma cultura clássica que levou São Luís a ser chamada de Atenas brasileira. Ferreira Gullar é um legítimo representante desse chão. Em 1949, foi publicado seu primeiro livro, Um pouco acima do chão, que mais tarde excluiria de sua bibliografia. Dois anos depois, começa a assinar críticas de arte quando, já no Rio, torna-se amigo do crítico Mário Pedrosa e de jovens pintores da época. Em 1954, Gullar lança A luta corporal, um de seus mais importantes livros de poemas, que vinha sendo escrito desde 1950. A partir deste livro, passa a ter contato com os poetas Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari, que viriam a criar o concretismo, movimento com o qual Gullar flertou durante um tempo para depois abandonar definitivamente. No dia seguinte ao golpe militar de 1964, Ferreira Gullar filia-se ao Partido Comunista Brasileiro, em mais um ato revelador de sua solidariedade com os amigos e companheiros de luta política. Após um longo período vivendo na clandestinidade, Gullar parte para o exílio em 1971, primeiro em Moscou e depois em Santiago, Lima e Buenos Aires. Enquanto mora fora do país, colabora com o Pasquim e outros jornais alternativos. Em 1976, sai em livro o Poema sujo, escrito em Buenos Aires e que acabou lançado no Rio sem a presença de Gullar. ''Senti que poderia desaparecer a qualquer momento e nessas circunstâncias resolvi escrever o Poema sujo, como se fosse a última coisa da minha vida. É a última coisa, o último grito, e vou dizer tudo que tenho para dizer enquanto é tempo'', contou depois o poeta. A relação de Ferreira Gullar com o Jornal do Brasil é antiga. Convidado por Reinaldo Jardim em 1956, ele foi um dos primeiros colaboradores do famoso Suplemento Dominical, caderno literário que marcou época pela qualidade de seus ensaios e pela agitação que causou nos meios artísticos, lançando os movimentos Concreto e Neo-Concreto (cujo manifesto foi escrito por Gullar). O poeta defende a tese segundo a qual o sucesso e o prestígio do SDJB estimularam a condessa Pereira Carneiro a realizar a famosa reforma do JB, no fim dos anos 50. - Criávamos muito problema. Os responsáveis pela área econômica do jornal reclamavam do excesso de papel em branco. A gente exagerava: dava metade da página em branco, com apenas dois títulos. Ficava bonito, mas custava uma fortuna - relembra."

Marina Colasanti: Como quem volta


Como quem volta à casa antiga, chego e me instalo. Mas não é uma casa antiga. É uma antiga casa nova, pois é para fazer o novo que fomos convocados.
Existe o novo? me pergunto. Um novo desvinculado de tudo o que o antecedeu, um novo primeiro, inaugural, que nasce consigo?
Quando entrei no Caderno B a primeira vez, havia palmeirinhas no patamar da escada, vidros jateados com arabescos separando as salas e linóleo verde no tampo das mesas, debaixo das máquinas de escrever. Eu também tinha um estremecimento de palmeiras na alma, farfalhar de medo e insegurança. Tudo era novo para mim. Vinha de belas-artes, jornalismo só se aprendia na redação e era terreno de gente atirada, ruidosa, homens, de preferência. Eu ali hesitante, sem me sentir atirada, sem saber onde me punha, sem saber como agir, o que dizer, sem saber. E nada ruidosa.
Anos depois chegaria ao jornal armada, porque havia ameaça de invasão por parte dos militares. Entreguei a Carlos Lemos, então secretário do jornal, a pistola Beretta 22 que levava na bolsa, quase uma bijuteria que meu pai havia me dado para me proteger, porque morava sozinha com meu irmão no Parque Lage. Não lembro, mas certamente Lemos sorriu do meu gesto de valentia. Já não era a mocinha hesitante que havia chegado àquela casa, era a jornalista disposta a defendê-la.

Aqui aprendi tudo o que havia para se aprender em jornalismo. Até a falar alto e a contar piadas, mais alto nos dias em que fazíamos o fechamento de três cadernos e a redação ficava tensa, de olho no relógio. E aprendi com Amílcar de Castro a ousadia estética que havia sido inaugurada por Reynaldo Jardim, e que nunca mais esqueceria, a guilhotina agindo sobre as fotos com entusiasmo de revolução francesa.

Máquinas de escrever, linóleo, guilhotina, fotos em papel, que antiga deve parecer a um jovem essa conversa. E, no entanto, apesar de eu ter passado pela cerimônia de iniciação de todo jovem jornalista daquela época - descer à oficina e ter o próprio nome fundido em chumbo pelo linotipista, nome que, com seu novo peso, ainda guardo em alguma gaveta - éramos moderníssimos.

Não sei se ainda saberíamos produzir uma modernidade igual àquela. Como se o novo só se concretizasse depois de emitido pelo Caderno B. Éramos todos repórteres investigativos do novo, daquilo que, como ainda não se dizia mas já existia igualzinho, acabava de pintar nas bocas. Ou melhor, que se preparava para pintar nas bocas e que só pintaria, de fato, depois de sacramentado pelo B. Passar o fim de semana sem ter lido antes o Caderno B era um risco que os descolados não se permitiam.

Em certo momento criamos - digo criamos por vaidade, pois quem criou mesmo foi Alberto Dines, nós apenas realizamos - a Página de Verão. Começava a esquentar, mudava o horário e lá íamos nós. Que alegria fazê-la, viver a cidade que nem sabujo, farejando pelos cantos, antenas sempre ligadas, olho nos detalhes, nos esboços, nos nascedouros. E a cidade toda, não apenas a Zona Sul, embora a Zona Sul, et pour cause, fosse a nossa praia. Uma crônica, uma coluna, uma reportagem, assim era a Página. E ilustrações a traço. Durante alguns anos, a impressão que tivemos era de que o verão não aconteceria em sua plenitude sem ela. Mas as páginas são sempre mais propensas a acabar do que os verões.

Tivemos o Jornal de Poesia, página dupla, mensal, com o que de mais atual estivesse ocorrendo entre os bardos. Lira tocando na imprensa diária, como nunca depois.

E durante oito anos, barbarizamos no teatro. Nunca mais o Rio teve uma cobertura teatral como naquele período. Era editor Paulo Affonso Grisolli, que acabou de falecer em Portugal. Diretor de teatro, e mais tarde de televisão, ele ensaiava de um lado, editava do outro, sempre de olho nos palcos. A redação se encheu de gente de teatro, uns que vinham conversar, outros que eram redatores, como Luis Carlos Maciel e Tite de Lemos. Cheguei até a fazer os figurinos para uma peça de Grisolli que apresentamos no MAM, tudo modesto, tudo sem dinheiro, mas parte da efervescência que vivíamos e que levávamos para as mesas com tampo de linóleo.

Gente maravilhosa passou por elas. Quando adentrei no B, quem mais se alegrou foi José Ramos Tinhorão, que, não sendo ainda essa sumidade da MPB, era redator. Cabia a ele, até então, por falta de mulher na redação, fazer as matérias femininas. Com a minha chegada, nunca mais teve que se preocupar com a altura das bainhas. Nonato Masson, especialista em cangaço, editor, que criou sessões memoráveis como Onde o Rio é Mais Carioca. Cláudio Mello e Souza, o poeta com peito de havaiano, como o definia Nelson Rodrigues. João Antônio, redator tímido que em silêncio afiava suas garras para as letras, e que um dia me mostrou, com alma exposta, os contos que acabara de mandar para o concurso literário do Paraná. Roberto Drummond, que tinha medo do Rio, que tinha medo do mundo, que sentava a um canto com as costas contra a parede e de vez em quando fugia para Belo Horizonte para nunca mais voltar, até que não voltou. Juarez Barroso, belo contista que só não produziu ampla obra porque morreu cedo. Carlos Eduardo Novaes, que ali consolidou seu humor. Fernando Gabeira, a quem eu dava carona na volta e que enfrentava o trânsito com longos discursos políticos. E o inigualável time dos cronistas, Clarice, Drummond, Sabino e o recém-republicado Carlinhos.

A velha nova casa guarda ainda as pegadas dos antigos habitantes. O nosso desafio agora é fazer um caderno tão novo quanto aquele que fizemos juntos.
Por Jéssica Lima e Priscilla Diniz