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O blog “Falando do B” tem como objetivo resgatar a história de um grande sucesso do Jornal do Brasil, o Caderno B. Os alunos da FACHA (Méier) desejam mostrar o início desse suplemento, a sua fase áurea, os grandes escritores e jornalistas que trabalharam no caderno e o quanto ele foi importante, visto que inaugurou uma área cultural até então inexplorada pelo jornalismo brasileiro. Os cadernos culturais se transformaram em objeto de desejo da maioria dos jornais depois de sua criação. O Caderno B foi o pioneiro e até hoje nós podemos curtir esse trabalho diariamente no JB.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Crônica do Xexéo sobre as relações industriais mantidas pelo Cinema e pelo Teatro, expressões que, na teoria, deveriam ser apenas Cultura.


14/05/1997 - Jornal do Brasil - Caderno B - Artur Xexéo. O inimigo do teatro é o cinema.

“O cinema brasileiro já agrediu seus espectadores com filmes ruins, artigos pretensiosos na imprensa e entrevistas rancorosas. Mas nunca foi tão agressivo como na sanha com que vem tentando derrubar uma possível Lei das Artes Cênicas que ajude a atividade teatral nos mesmos moldes com que a Lei do Audiovisual vem auxiliando a atividade cinematográfica. O cinema e o teatro no Brasil sempre se comportaram de maneira muito diferente. Enquanto o primeiro evoluía com descontração por gabinetes de Brasília, o segundo se contentava com reuniões na sala de visitas de Alcione Araújo. Como resultado, o cinema sempre se beneficiou de leis governamentais que garantem produções milionárias enquanto o teatro se limitava a sonhar com uma campanha da Kombi. Agora que descobriu que seus problemas não cabem numa Kombi, o teatro se defronta com seu verdadeiro inimigo: o cinema. 'Cinema é uma indústria que sofre concorrência internacional e, por isso, precisa de uma complexa engenharia financeira', vaticina o produtor cinematográfico Luiz Carlos Barreto, já temendo a divisão do dinheiro que hoje financia exclusivamente filmes. Em outras palavras, cinema é indústria, teatro é artesanato. Um precisa de leis de fomento. O outro deve se contentar com esmolas. Será ? 'Os custos e o retorno financeiro de um filme são diferentes dos de uma peça', complementa a produtora Glaucia Camargos. São mesmo. Há peças, por exemplo, que custam muito menos que qualquer filme nacional e dão um retorno muito maior que a maioria da recente produção cinematográfica do país. Os monólogos interpretados no palco por Miguel Falabella e Claudia Jimenez, a comédia O mistério de Irma Vap ou o drama de reminiscências Pérola conseguiram atingir um número de espectadores que faria a maior parte dos cineastas locais morrerem de vergonha. Ué, mas não seria justamente o cinema, a tal atividade industrial, que deveria atingir a massa ? Custos altos também são muito relativos. O orçamento de uma superprodução cinematográfica brasileira - algo entre 3 e 4 milhões de dólares - só serve para pagar uma produção independente nos Estados Unidos. E alguns orçamentos do teatro nova-iorquino, por exemplo, atingem a casa dos 10 milhões de dólares, quantia nunca utilizada por uma produção cinematográfica nacional. Então o que é que caracteriza o cinema como atividade industrial e o teatro como atividade artesanal ? As fábricas de filmes, que compuseram o modelo do cinema americano até os anos 50, caíram em desuso no mundo inteiro. Operários especializados não são exclusividade do cinema. Técnicos em efeitos especiais, iluminadores sofisticados, cenógrafos que se confundem com arquitetos são cada vez mais utilizados no teatro de todo o mundo. O teatro é a principal atividade turística de Nova Iorque, ganhando longe da Estátua da Liberdade, do circuito de museus, do Empire State Building. Gera dinheiro - e muito - para a cidade. Não é verdade que 'o teatro, tradicionalmente, em qualquer lugar do mundo, é uma atividade artesanal e deve ser subvencionada pelo governo e patrocinada por empresas privadas', como quer Luiz Carlos Barreto. Qualquer produção teatral moderna americana conta com produtores que dividem seu orçamento em cotas oferecidas ao mercado, como os produtores de cinema no Brasil estão começando a fazer. Uma Lei das Artes Cênicas pode ser o primeiro passo para o teatro brasileiro, enfim, se profissionalizar. Não é o volume do orçamento, o fato de produzir uma obra reprodutível, a concorrência de produto estrangeiro ou a possibilidade de competir em mercados diferentes simultaneamente que torna o cinema mais indústria que o teatro. Se fosse assim, os artistas plásticos já teriam pronta sua Lei da Xilogravura. Teatro e cinema fazem parte da mesma indústria: a indústria do entretenimento. E o meio teatral só vai perceber isso quando passar a fazer o que o cinema brasileiro faz como ninguém no país: lobby. É claro que ninguém aqui está falando em cultura. Cultura só sobrevive com subvenção. Mas também não foi pensando em cultura que o meio cinematográfico bolou a Lei do Audiovisual. O assunto aqui é entretenimento. E já que o pessoal do teatro está seguindo os passos da turma do cinema, é bom que aprenda com os erros dos outros. Cuidado com os atravessadores ou “captadores de recursos”, como eles se intitulam. Até agora, com a Lei do Audiovisual, foram os únicos que saíram ganhando. E, para acabar o assunto, atividade industrial tem que ter mercado, preços competitivos e dar lucro. Se não, a fábrica fecha”.

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