23/05/1999 - Jornal do Brasil - Caderno B. O maldito do cinema brasileiro.
Paulo Vasconcellos e Marcelo Janot
“O maldito da vez do cinema brasileiro chama-se Guilherme Fontes, tem 31 anos de idade e carrega uma razoável bagagem como galã de televisão e cinema. No currículo não há nenhum longa-metragem como diretor, mas uma promessa de superprodução que ameaça virar pesadelo. Desde que suspendeu as filmagens de Chatô, o rei do Brasil, baseado no livro de Fernando Morais sobre Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, dono do maior império de comunicações que o país já teve, muita gente não dorme direito. Nem Júlio Bressane, nem Rogério Sganzerla, nem Ivan Cardoso foram tão destratados. Pelas contas do mercado já foram torrados R$ 10 milhões no filme - uma vez e meia o que foi consumido em Central do Brasil . Na ponta do lápis, Guilherme Fontes diz que só gastou R$ 4,5 milhões. Não falta quem o aponte como aventureiro. Um ex-colaborador de Guilherme garante que a anarquia domina Chatô desde que o projeto começou a ganhar forma, há cinco anos. Na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), encarregada de fiscalizar a aplicação dos recursos obtidos com as leis Rouanet e do Audiovisual, a informação é de que não paira nenhuma irregularidade. “Não achamos nada errado”, dia José Álvaro Moisés, da Secretaria de Audiovisual do Ministério da Cultura. “A paralisação do filme já é sinal de que algo está errado”, afirma o produtor Luiz Carlos Barreto. Às voltas com as dificuldades de captação de dinheiro para a conclusão do filme Senhorita Simpson, do filho Bruno, Luiz Carlos Barreto alega que a situação está provocando uma retração dos financiadores. “Um ator inexperiente não pode atrapalhar o esforço coletivo do cinema brasileiro”, endossa Sandra Werneck, que também busca recursos para Amores possíveis, orçado em R$ 1,8 milhões. “Estou sendo vítima de uma lei imperfeita, mas com mais R$ 1,5 milhão termino Chatô", rebate Guilherme. “Não fomos informados sobre paralisação. Sabemos que têm havido certas dificuldades, mas, até prova em contrário, cosideramos que sejam normais em um país sem uma indústria de cinema consolidada”, diz Miguel Jorge, vice-presidente de Assuntos Corporativos da Volkswagen, um dos investidores de Chatô”.
“Fábio Coelho, diretor de Marketing do Citibank, impõe condições à liberação de mais recursos. “Apostamos na iniciativa, mas esperamos que outras empresas também participem”. Num setor que oscila tanto quanto o país, a preocupação se justifica. Antes de qualquer fracasso se tornar mais do que uma ameaça, a tendência já apontava que 1999 seria um ano ruim para o cinema brasileiro. “Se um projeto de R$ 10 milhões para, joga tudo por água abaixo”, diz Sandra Werneck. “Chatô vai terminar, defende-se Guilherme Fontes. Se não for assim, o que prometia ser o patinho bonito do cinema brasileiro corre o risco de virar o personagem da fábula”.
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Perceberam como as falas dos entrevistados, colocadas em sequência, se casam de uma forma que parece que eles estão discutindo o assunto na nossa frente?
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