MATÉRIA PUBLICADA NO SITE DO OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA COM O DEPOIMENTO DO JORNALISTA ALBERTO DINES SOBRE A IMPORTÂNCIA DO SUPLEMENTO CULTURAL DO JORNAL DO BRASIL
'09/12/2008 - Observatório da Imprensa
LADO B DO JORNALISMO - Eles não gostam dos cadernos culturais
(Alberto Dines)
O "Caderno B" do Jornal do Brasil - inventado por Reynaldo Jardim em meados dos anos 1950 - foi uma síntese do que hoje se chama "jornalismo cultural". Começou reunindo as magníficas sobras do dia anterior e aos poucos transformou-se num caderno de cultura.
Não era um suplemento literário, ensaístico, como os do Estado de S. Paulo, do Correio da Manhã e Diário de Notícias, montados em cima de rodapés assinados pelos "nomões" da crítica literária na boa tradição do feuilleton europeu. O "B" era uma pausa para o jornalismo de qualidade, grandes fotos, textos esmerados completos, grandes entrevistas, resenhas estimulantes, pausa para o prazer de ler e o dever de pensar.
O lado B do jornalismo é o seu lado verdadeiro, garantidor da sua sobrevivência ao longo de quatro séculos. Jornalismo cultural, cadernos de cultura e histórias bem contadas fazem parte do mesmo núcleo de resistência à homogeneização e à descartabilidade. Este jornalismo cultural está sendo sitiado e lentamente esvaziado pelo comercialismo dos releases das editoras e produtoras, pelas lantejoulas do show-biz, pelas diferentes formas de charlatanice modernista e demais sub-subprodutos da sub-subindústria cultural.'
É necessário ressaltar que com uma equipe de jovens colaboradores (entre eles Jânio de Freitas, Carlos Lemos e Wilson Figueiredo), Odylo Costa Filho, no cargo de editor chefe do JB, introduziu, a partir de 1956, profundas modificações gráfico-editoriais no diário. O jornal, já estruturado como empresa, havia adquirido novos equipamentos gráficos necessários para sua modernização.
A reforma gráfica do JB ficou a cargo do escultor mineiro Amílcar de Castro, que inspirado no concretismo romperia "a espinha-dorsal que dividia a antiga diagramação em duas metades simétricas" (Gaudêncio Junior, 2005: 2). Abusando do branco do papel, ele abria maior espaço entre as colunas, eliminando os fios que antes as dividiam e criando contrastes entre os elementos verticais e horizontais para orientar o leitor por uma página mais funcional e atraente. As mudanças dão cara nova ao jornal, que deixa para trás o perfil de "jornal praticamente sem notícias, encostado nos anúncios classificados e vivendo em função destes, [... e] com material gráfico arcaico, com fios grossos, tipos que borravam e uma impressora envelhecida" (Figueiredo apud Gaudêncio Junior, 2005: 4).
Para Gaudêncio Junior (2005: 2), o arrojo gráfico acentuava a "ousadia intelectual" do jornal. Segundo Alberto Dines, que viria a ser, mais tarde, editor-chefe do jornal, o novo modelo gráfico e editorial do JB seria, nos próximos 30 anos, "copiado do Oiapoque ao Chuí" (Alves de Abreu; Lattman-Weltmann e Rocha, 2003: 87).
Em 1956, o JB já tinha lançado o inovador Suplemento Dominical que "trazia um pouco de tudo: artes plásticas, teatro, cinema, ciências, ensaios literários e poesia" (Jornal do Brasil, 2000). O poeta Ferreira Gullar – que participou do início do projeto com o poeta Mário Faustino – lembra que o suplemento causou muito impacto na época, influenciando e lançando artistas jovens, principalmente ligadas ao movimento neoconcreto. Segundo ele, o suplemento apresentava "uma filosofia, uma visão", lançando idéias e movimentos (2007: 1). O suplemento serviria de embrião para o Caderno B, lançado em 1960, oferecendo cobertura de eventos culturais ao leitor e textos criativos de escritores como Clarice Lispector, Carlinhos de Oliveira e Ferreira Gullar, que contribuíam regularmente para o jornal. Outra seção do jornal, a página de Esportes, funcionava como "um verdadeiro laboratório de experimentos dentro do jornal" (Alves de Abreu; Lattman-Weltmann e Rocha, 2003: 71).
É dentro deste contexto de modernização que Alberto Dines assume a direção do jornal, em janeiro de 1962. Consolidando as reformas iniciadas por Odylo, Dines introduziu várias inovações à produção do JB: relacionadas à sistematização de rotinas e práticas de produção de notícias. O jornal passou a ser planejado mais cedo – logo de manhã – o que mostra a preocupação de tentar impor uma estrutura sobre o tempo que lhe permitisse levar a cabo o seu trabalho diário.
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