Sobre nós


O blog “Falando do B” tem como objetivo resgatar a história de um grande sucesso do Jornal do Brasil, o Caderno B. Os alunos da FACHA (Méier) desejam mostrar o início desse suplemento, a sua fase áurea, os grandes escritores e jornalistas que trabalharam no caderno e o quanto ele foi importante, visto que inaugurou uma área cultural até então inexplorada pelo jornalismo brasileiro. Os cadernos culturais se transformaram em objeto de desejo da maioria dos jornais depois de sua criação. O Caderno B foi o pioneiro e até hoje nós podemos curtir esse trabalho diariamente no JB.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Palavras de Alberto Dines insuflam a força do B

MATÉRIA PUBLICADA NO SITE DO OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA COM O DEPOIMENTO DO JORNALISTA ALBERTO DINES SOBRE A IMPORTÂNCIA DO SUPLEMENTO CULTURAL DO JORNAL DO BRASIL

'09/12/2008 - Observatório da Imprensa

LADO B DO JORNALISMO - Eles não gostam dos cadernos culturais
(Alberto Dines)

O "Caderno B" do Jornal do Brasil - inventado por Reynaldo Jardim em meados dos anos 1950 - foi uma síntese do que hoje se chama "jornalismo cultural". Começou reunindo as magníficas sobras do dia anterior e aos poucos transformou-se num caderno de cultura.
Não era um suplemento literário, ensaístico, como os do Estado de S. Paulo, do Correio da Manhã e Diário de Notícias, montados em cima de rodapés assinados pelos "nomões" da crítica literária na boa tradição do feuilleton europeu. O "B" era uma pausa para o jornalismo de qualidade, grandes fotos, textos esmerados completos, grandes entrevistas, resenhas estimulantes, pausa para o prazer de ler e o dever de pensar.
O lado B do jornalismo é o seu lado verdadeiro, garantidor da sua sobrevivência ao longo de quatro séculos. Jornalismo cultural, cadernos de cultura e histórias bem contadas fazem parte do mesmo núcleo de resistência à homogeneização e à descartabilidade. Este jornalismo cultural está sendo sitiado e lentamente esvaziado pelo comercialismo dos releases das editoras e produtoras, pelas lantejoulas do show-biz, pelas diferentes formas de charlatanice modernista e demais sub-subprodutos da sub-subindústria cultural.'

É necessário ressaltar que com uma equipe de jovens colaboradores (entre eles Jânio de Freitas, Carlos Lemos e Wilson Figueiredo), Odylo Costa Filho, no cargo de editor chefe do JB, introduziu, a partir de 1956, profundas modificações gráfico-editoriais no diário. O jornal, já estruturado como empresa, havia adquirido novos equipamentos gráficos necessários para sua modernização.
A reforma gráfica do JB ficou a cargo do escultor mineiro Amílcar de Castro, que inspirado no concretismo romperia "a espinha-dorsal que dividia a antiga diagramação em duas metades simétricas" (Gaudêncio Junior, 2005: 2). Abusando do branco do papel, ele abria maior espaço entre as colunas, eliminando os fios que antes as dividiam e criando contrastes entre os elementos verticais e horizontais para orientar o leitor por uma página mais funcional e atraente. As mudanças dão cara nova ao jornal, que deixa para trás o perfil de "jornal praticamente sem notícias, encostado nos anúncios classificados e vivendo em função destes, [... e] com material gráfico arcaico, com fios grossos, tipos que borravam e uma impressora envelhecida" (Figueiredo apud Gaudêncio Junior, 2005: 4).
Para Gaudêncio Junior (2005: 2), o arrojo gráfico acentuava a "ousadia intelectual" do jornal. Segundo Alberto Dines, que viria a ser, mais tarde, editor-chefe do jornal, o novo modelo gráfico e editorial do JB seria, nos próximos 30 anos, "copiado do Oiapoque ao Chuí" (Alves de Abreu; Lattman-Weltmann e Rocha, 2003: 87).
Em 1956, o JB já tinha lançado o inovador Suplemento Dominical que "trazia um pouco de tudo: artes plásticas, teatro, cinema, ciências, ensaios literários e poesia" (Jornal do Brasil, 2000). O poeta Ferreira Gullar – que participou do início do projeto com o poeta Mário Faustino – lembra que o suplemento causou muito impacto na época, influenciando e lançando artistas jovens, principalmente ligadas ao movimento neoconcreto. Segundo ele, o suplemento apresentava "uma filosofia, uma visão", lançando idéias e movimentos (2007: 1). O suplemento serviria de embrião para o Caderno B, lançado em 1960, oferecendo cobertura de eventos culturais ao leitor e textos criativos de escritores como Clarice Lispector, Carlinhos de Oliveira e Ferreira Gullar, que contribuíam regularmente para o jornal. Outra seção do jornal, a página de Esportes, funcionava como "um verdadeiro laboratório de experimentos dentro do jornal" (Alves de Abreu; Lattman-Weltmann e Rocha, 2003: 71).
É dentro deste contexto de modernização que Alberto Dines assume a direção do jornal, em janeiro de 1962. Consolidando as reformas iniciadas por Odylo, Dines introduziu várias inovações à produção do JB: relacionadas à sistematização de rotinas e práticas de produção de notícias. O jornal passou a ser planejado mais cedo – logo de manhã – o que mostra a preocupação de tentar impor uma estrutura sobre o tempo que lhe permitisse levar a cabo o seu trabalho diário.

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