Sobre nós


O blog “Falando do B” tem como objetivo resgatar a história de um grande sucesso do Jornal do Brasil, o Caderno B. Os alunos da FACHA (Méier) desejam mostrar o início desse suplemento, a sua fase áurea, os grandes escritores e jornalistas que trabalharam no caderno e o quanto ele foi importante, visto que inaugurou uma área cultural até então inexplorada pelo jornalismo brasileiro. Os cadernos culturais se transformaram em objeto de desejo da maioria dos jornais depois de sua criação. O Caderno B foi o pioneiro e até hoje nós podemos curtir esse trabalho diariamente no JB.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Homem de Idéias

Artigo publicado originalmente por Alvaro Costa e Silva e Paulo Celso Pereira em 31/12/2004.
Publicado no Caderno B do Jornal do Brasil, 26 de dezembro de 2004.
"Ferreira Gullar é o Homem de Idéias de 2004. Aos 74 anos, o poeta foi lembrado pela relevância e extensão de sua obra e por sua posição política. Aos 74 anos, o maranhense Ferreira Gullar - um dos mais importantes poetas brasileiros, além de crítico de arte combativo, dramaturgo e jornalista - é o Homem de Idéias 2004. Em eleição de que participaram alguns dos escolhidos de anos anteriores - como o crítico literário Antonio Candido, o arquiteto Oscar Niemeyer, o cientista social Luís Eduardo Soares, o filósofo Leandro Konder, o sociólogo Francisco de Oliveira, o historiador José Murilo de Carvalho e o escritor Luiz Fernando Verissimo -, Gullar recebeu a maioria dos votos, superando o economista Carlos Lessa, o escritor Ruy Castro e a professora Alba Zaluar.
- A poesia é uma invenção, e, por isso, às vezes um poeta é mais ouvido. Pois o que ele escreve corresponde de uma maneira mais ampla ao sentimento das pessoas - afirma ele na entrevista da página B3 desta edição especial do Caderno B - Idéias & Livros.
Oscar Niemeyer, um velho amigo e militante dos tempos do Partidão (como era conhecido o Partido Comunista Brasileiro), abriu a campanha em favor de Gullar com poucas palavras. Mas palavras de ordem: - Ele é um sujeito correto, um homem de esquerda, um grande poeta e um bom camarada. Ao longo de 2004, a editora José Olympio deu início ao projeto de relançar toda a obra de Gullar (revista pelo autor e com esmerado projeto gráfico), publicando uma nova edição de Na vertigem do dia e outra de A luta corporal, em comemoração aos 50 anos do livro. E a Global mandou para as livrarias a 7ª edição da antologia Melhores poemas de Ferreira Gullar, organizada pelo crítico literário Alfredo Bosi. É com base nessas reedições que Leandro Konder justificou seu voto: - Os poemas dele foram reunidos e tornados acessíveis. E tiveram um eco surpreendente, sobretudo na nova geração, que reagiu bem aos poemas. Completando a ala dos votantes em Gullar, Antônio Cândido o escolheu por ser ''um poeta muito significativo'' e José Murilo de Carvalho ressaltou a importância de sua obra poética na moderna literatura brasileira e de seu trabalho como crítico de arte. Nascido em 10 de setembro de 1930, em São Luís, no Maranhão, José Ribamar Ferreira (Gullar é o aproveitamento do nome francês, Goulart, de sua mãe) pensou, primeiro, em ser jogador de futebol, até que um sarrafo de um adversário o demoveu da idéia. Aos 13 anos, na escola técnica onde aprendeu a plainar e polir madeira, decidiu ser escritor, depois de receber elogios de uma professora por conta de uma redação sobre o Dia do Trabalho. Manteve-se, assim, a tradição do Maranhão em gerar filhos que sabem como poucos manejar a língua. Gullar faz sempre questão de lembrar que a primeira gramática da língua portuguesa editada no Brasil foi escrita por um maranhense. Foi também um maranhense, Odorico Mendes, quem primeiro traduziu os clássicos poetas latinos Horácio e Virgílio. Por essas e outras, desenvolveu-se no Maranhão uma cultura clássica que levou São Luís a ser chamada de Atenas brasileira. Ferreira Gullar é um legítimo representante desse chão. Em 1949, foi publicado seu primeiro livro, Um pouco acima do chão, que mais tarde excluiria de sua bibliografia. Dois anos depois, começa a assinar críticas de arte quando, já no Rio, torna-se amigo do crítico Mário Pedrosa e de jovens pintores da época. Em 1954, Gullar lança A luta corporal, um de seus mais importantes livros de poemas, que vinha sendo escrito desde 1950. A partir deste livro, passa a ter contato com os poetas Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari, que viriam a criar o concretismo, movimento com o qual Gullar flertou durante um tempo para depois abandonar definitivamente. No dia seguinte ao golpe militar de 1964, Ferreira Gullar filia-se ao Partido Comunista Brasileiro, em mais um ato revelador de sua solidariedade com os amigos e companheiros de luta política. Após um longo período vivendo na clandestinidade, Gullar parte para o exílio em 1971, primeiro em Moscou e depois em Santiago, Lima e Buenos Aires. Enquanto mora fora do país, colabora com o Pasquim e outros jornais alternativos. Em 1976, sai em livro o Poema sujo, escrito em Buenos Aires e que acabou lançado no Rio sem a presença de Gullar. ''Senti que poderia desaparecer a qualquer momento e nessas circunstâncias resolvi escrever o Poema sujo, como se fosse a última coisa da minha vida. É a última coisa, o último grito, e vou dizer tudo que tenho para dizer enquanto é tempo'', contou depois o poeta. A relação de Ferreira Gullar com o Jornal do Brasil é antiga. Convidado por Reinaldo Jardim em 1956, ele foi um dos primeiros colaboradores do famoso Suplemento Dominical, caderno literário que marcou época pela qualidade de seus ensaios e pela agitação que causou nos meios artísticos, lançando os movimentos Concreto e Neo-Concreto (cujo manifesto foi escrito por Gullar). O poeta defende a tese segundo a qual o sucesso e o prestígio do SDJB estimularam a condessa Pereira Carneiro a realizar a famosa reforma do JB, no fim dos anos 50. - Criávamos muito problema. Os responsáveis pela área econômica do jornal reclamavam do excesso de papel em branco. A gente exagerava: dava metade da página em branco, com apenas dois títulos. Ficava bonito, mas custava uma fortuna - relembra."

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