Sobre nós


O blog “Falando do B” tem como objetivo resgatar a história de um grande sucesso do Jornal do Brasil, o Caderno B. Os alunos da FACHA (Méier) desejam mostrar o início desse suplemento, a sua fase áurea, os grandes escritores e jornalistas que trabalharam no caderno e o quanto ele foi importante, visto que inaugurou uma área cultural até então inexplorada pelo jornalismo brasileiro. Os cadernos culturais se transformaram em objeto de desejo da maioria dos jornais depois de sua criação. O Caderno B foi o pioneiro e até hoje nós podemos curtir esse trabalho diariamente no JB.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Vai, Carlos, ser gauche na eternidade

Affonso Romano de SantAnna escreveu alguns textos sobre o grande poeta Carlos Drummond de Andrade. Em um deles, Sant'Anna comenta sobre quando redigiu o obituário de Drummond:
Sensação realmente estranha, estapafúrdia, ambígua e perfeitamente normal, tive poucos dias antes da morte do poeta. Ele já estivera internado antes da morte de Maria Julieta. E a imprensa, prevendo que ele poderia morrer a qualquer momento, adiantava o obituário. É assim que a imprensa trabalha. Os jornais, para não serem pegos de surpresa, guardam obituários dos eminentes e iminentes candidatos à morte. Ora, eu havia substituído Drummond como cronista no Jornal do Brasil, e lá, Zuenir Ventura, que então chefiava o Caderno B, pediu que fizesse um ensaio sobre o poeta, porque ele poderia morrer a qualquer hora. Estranha, estapafúrfia, ambígua e perfeitamente normal a situação. Ele, vivo no seu apartamento, e eu, no meu, escrevendo o texto para após sua morte. No entanto, Drummond se restabelece e o que acontece é a morte de Maria Julieta de entremeio. Encontro-me com ele no velório da filha. Ele vivo, ali, na minha frente, e o jornal já com o meu texto sobre ele morto, não se sabia para quando. Pensei que deveria dar para ele ler. Acho que ele ia achar até engraçado. Ler vivo o que sobre ele se publicaria depois de morto. Após sua morte, um dia recebo o telefonema de uma ex-aluna, dizendo-me que Drummond aparecera numa sessão espírita e que havia mandado dois recados. Ouvi-os atentamente. Um era para Dona Dolores: que dissesse a ela para não se preocupar, porque ele estava muito bem. Quanto a mim, dizia a amiga espírita, ele mandava dizer que o que mais gostara fora o título daquele meu texto que o jornal publicara: “Vai, Carlos, ser gauche na eternidade”. Como se vê, do outro lado, ele continuava atento, atencioso e bem-humorado.
Por Priscilla Diniz

Um comentário:

  1. Minha primeira reação ao ler esse texto foi a do queixo caído. Drummond vive mesmo depois de morto!
    O blog está tomando um rumo muito interessante e informativo. Ele nasceu com o objetivo de literalmente falar do Caderno B do JB, e está indo além das expectativas. Passa a ser uma ponte para nos aproximarmos dos jornalistas e escritores que fizeram uma competente combinação entre jornalismo e literatura. O legado deixado por eles é vasto e rico, devemos explorar o máximo possível!

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