Sobre nós


O blog “Falando do B” tem como objetivo resgatar a história de um grande sucesso do Jornal do Brasil, o Caderno B. Os alunos da FACHA (Méier) desejam mostrar o início desse suplemento, a sua fase áurea, os grandes escritores e jornalistas que trabalharam no caderno e o quanto ele foi importante, visto que inaugurou uma área cultural até então inexplorada pelo jornalismo brasileiro. Os cadernos culturais se transformaram em objeto de desejo da maioria dos jornais depois de sua criação. O Caderno B foi o pioneiro e até hoje nós podemos curtir esse trabalho diariamente no JB.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Entrevista: Marcelo Tognozzi

Grande repórter do JB, Marcelo Tognozzi conta para o nosso blog algumas aventuras que passou enquanto trabalhava no jornal e sobre suas matérias para o Caderno B.

1) Trabalhou durante quanto tempo no JB?
Trabalhei no JB entre 1987 e 1992.


2) Conte-nos um pouco dessa época no JB e sobre suas matérias no Caderno B.
Fiz várias matérias para o B. Cobri política em Brasília, Economia, geral, dirigi a sucursal de Salvador, fui editor da política na época em que a Luciana Villas Boas era uma espécie de supereditora de Nacional/Politica. Uma delas, de Brasilia, foi muito comentada. Uma entrevista com o Niemeyer que estava trabalhando na cidade na época em que José Aparecido era o governador. Saiu na edição de 9 de março de 1987. Fiz também uma das primeiras entrevistas com o Paulo Coelho numa grande matéria sobre magia. Ele ainda morava num apartamentinho de fundos em Copacabana, se não me engano na Dias da Rocha, e tinha publicado "O Diário de um Mago". Capa do B, a matéria sobre o malandro Moreira da Silva, com mil histórias. O promotor que usava o carro do traficante, o cara que vendida certidões da prefeitura em plena Presidente Vargas. E por aí vai.


3) Como vê o Caderno B hoje, que foi o pioneiro no jornalismo cultural?
Infelizmente eu não vejo, porque ficou difícil ler o JB diariamente, principalmente aqui em Brasilia. O jornal mudou muito e perdeu o peso de formador de opinião.

4) O que significou para sua carreira trabalhar no JB?
Significou muito, porque naquela época trabalhar no JB significava status profissional. Era um time de primeira, o melhor do jornalismo carioca. Aprendi muito, principalmente a não abrir mão de investigar, ouvir os dois lados, apurar fundo. Não havia denúncia publicada sem comprovação.

5) Lembra-se de alguma história interessante que tenha acontecido enquanto trabalhava no B?

Lembro sim. Era 1º de maio de 1989. Eu fazia parte da editoria de reportagem especial, mais conhecida como swat, comandada pela Ruth de Aquino. Fui cobrir a comemoração em Volta Redonda. No ano anterior a CSN fora invadida por tropas do Exército durante uma greve e três operários morreram no tiroteio. Havia muitos políticos, como o Brizola e o Prestes. O Niemeyer fez um monumento em homenagem aos operários mortos, um monumento lindo que estava sendo inaugurado. Fizeram aquela solenidade bonita, discursos, coisa e tal. Na hora de voltar para o Rio, descobri que o nosso motorista estava sem dormir há dois dias. Liguei para o JB e disse que não iria voltar, porque não achava justo me arriscar com um motorista sonado na Serra das Araras. A Ruth autorizou dormir no Hotel Bela Vista. Passei a matéria por telex e o fotógrafo, Marco Antonio Teixeira, mandou seu material por telefoto (não tinha internet). A telefoto tinha uma barulinho típico: íííííííííííííí. Às 3h20 da manhã acordei com um estrondo. Minha cama sacudiu. Uma bomba mandou pelos ares o monumento do Niemeyer por obra e graça de um comando terrorista ligado ao serviço secreto do Exército. O motorista não acordou. Tivemos que arrombar a porta do quarto para pegar a chave do carro. Estávamos a uns mil metros do local e os vidros das janelas estilhaçaram com a força da explosão. E o cara roncava o sono dos justos... Eu era o único jornalista ali. Cheguei no local, comecei a apurar a praça onde ficava o monumento, tinha muita fumaça e um cheiro forte de enxofre. Tudo deserto, sem viva alma. O monumento - ou o que restou dele - estava no chão. Liguei para a Rádio JB. Ninguém atendia. Tinha um puta furo e não podia colocar no ar. Isso dá uma angústia desgraçada. Depois de várias tentativas liguei para a casa do Tim Lopes, meu arquiamigo de décadas. Passei o lide curto e grosso, porque só tinha uma ou duas fichas e a ligação do orelhão podia cair a qualquer momento (naquela época orelhão era movido a ficha). Foi o Tim quem conseguiu passar a notícia que a Rádio deu em primeira mão, furando todo mundo. Horas depois Volta Redonda virou um formigueiro de repórteres e fotógrafos, mas só nós tínhamos uma testemunha, a qual foi devidamente escondida numa fazenda em Piraí. No dia seguinte, um alto-forno da CSN explodiu sem qualquer motivo aparente. Dois operários morreram carbonizados. O que era para ser uma cobertura de um dia virou um plantão de um mês. Até hoje, 20 anos depois, os culpados não foram identificados. A identidade da nossa testemunha nunca foi revelada.


Fiz também uma matéria fantástica com o Expedito Filho, em 1987. Foi manchete. Era sobre uma pseudo associação de coronéis e tenentes coronéis do Exército que servia de fachada para um golpe contra o Sarney. A matéria foi publicada num domingo. No fechamento da edição de segunda, o Zueinir estava no comandando da redação quando vários tiros foram dados nas janelas do JB. O atirador estava num carro estacionado no viaduto de acesso à Ponte, sentido Rio-Niteroi. Zuenir ficou branco, as pernas bambas, mas ainda teve forças para cravar a manchete daquela edição: Tiros no JB.

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